Nomeação de Serraglio para Justiça gera reação no PMDB
Sob pressão de seu próprio partido, o PMDB, o presidente Michel Temer cedeu ao pedido por maior espaço na Esplanada dos Ministérios e anunciou nesta quinta (23) o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), 68, para comandar a Justiça.
A nomeação, antecipada pela Folha, tinha como objetivo contemplar a bancada da sigla na Câmara dos Deputados. Contudo, teve efeito contrário ao pretendido e deflagrou uma crise que ameaça a fidelidade do partido em votações de interesse do governo federal, como as reformas da Previdência Social e trabalhista.
Vice-presidente da Câmara, o também peemedebista Fábio Ramalho (MG) afirmou que está rompendo com o governo Temer e que sua vontade agora é impor seguidas derrotas ao Palácio do Planalto nas votações.
“Parece que o governo tem ódio de Minas Gerais”, disse Ramalho à Folha.
A insatisfação da bancada do PMDB de Minas Gerais reside no fato de Temer não ter escolhido o também deputado Rodrigo Pacheco (PMDBMG), que chegou a ser cotado, mas acabou sendo descartado após virem a público declarações dele contra o poder de investigação do Ministério Público, um dos responsáveis pela Lava Jato.
Ramalho afirmou que recebeu na tarde desta quinta um telefonema de Temer, que tentou lhe explicar a escolha.
Segundo o deputado, Temer prometeu até recriar um ministério para colocar um peemedebista de Minas como ministro. “Falei que a gente recusava”, disse Ramalho, em tom exaltado.
A insatisfação com a escolha se estende a peemedebistas de outros Estados. Sob condição de anonimato, dois deles disseram que o Ministério da Justiça não resolve o problema do partido, que demanda comandar uma pasta com acesso a recursos para obras nos redutos eleitorais dos parlamentares.
Segundo eles, Serraglio não conseguiu o apoio da bancada, a maior da Câmara, com 65 deputados. Dizem que o novo ministro tem apenas o voto dele a oferecer.
“Não existe consenso quando se fala do PMDB. Com toda certeza, [a primeira missão de Serraglio] vai ser unificar o partido”, disse o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).
Para agradar o partido, Temer cogita recriar o posto de liderança da maioria. O mais cotado é Lelo Coimbra (PMDB-ES). Sob pressão também de Rodrigo Maia (DEMRJ), o presidente decidiu nomear o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) como líder do governo na Casa. Desde sua reeleição ao comando da Câmara, Maia vinha pressionando pela saída de André Moura (PSC-SE), que fez campanha pela eleição de Jovair Arantes (PTB-GO). SEGURANÇA Em seu último posto de destaque, o novo ministro foi alçado à presidência da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) pelas mãos de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de quem foi aliado quando ele presidiu a Câmara.
Sob pressão da opinião pública, Serraglio recusou os recursos apresentados por Cunha no processo que culmi- nou com sua cassação.
Antes mesmos de ser anunciado oficialmente ministro, Serraglio já dava entrevistas como nomeado e agradecia o apoio. Às 17h19, cerca de duas horas antes da declaração presidencial, ele enviou mensagem de agradecimento aos deputados peemedebistas, disse que estaria “à disposição” deles e que poderiam contar com ele.
A escolha de Serraglio ocorreu após o presidente não ter conseguido o nome de um jurista de renome para o posto. O cargo foi recusado, por exemplo, pelos exministros do STF (Supremo Tribunal Federal) Carlos Velloso, Carlos Ayres Britto e Ellen Gracie.
O convite a Serraglio foi feito na tarde desta quinta-feira (23) e prontamente aceito pelo peemedebista.
O presidente ainda não definiu quem ocupará a Secretaria Nacional de Segurança Pública, subordinada ao Ministério da Justiça. Temer não decidiu se ela continuará na pasta ou passará para a Presidência, o que permitiria a nomeação de Antonio Claudio Mariz para a estrutura presidencial. (GUSTAVO URIBE, DANIEL CARVALHO, RANIER BRAGON E DANIELA LIMA)