Folha de S.Paulo

Cunha deu a deputado funções de projeção

Osmar Serraglio presidiu a CCJ a partir de acordo costurado pelo ex-presidente da Câmara, hoje preso pela Lava Jato

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Novo ministro, no entanto, não se envolveu na operação que tentou salvar a pele de Eduardo Cunha

Em seu quinto mandato consecutiv­o como deputado federal, Osmar Serraglio (PMDB-PR), 68, conseguiu suas últimas funções de projeção sob as asas de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), apesar de nunca ter sido muito próximo a ele e de não ter se envolvido explicitam­ente na operação que tentou salvar a pele do expresiden­te da Câmara.

Advogado de formação, Serraglio pertence à ala do PMDB que por muito tempo foi comandada por Cunha, tendo inclusive sido eleito presidente da Comissão de Constituiç­ão e Justiça, a principal da Câmara, por meio de um acordo costurado pelo então presidente da Casa.

No início de 2016, ainda na gestão de Dilma Rousseff, a bancada do PMDB rachou na definição do nome que comandaria­aCCJ.Cunhafecho­u então um acordo por meio do qual Serraglio presidiria a comissão em 2016 e Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), em 2017.

Ao assumir a comissão em maiode2016,porém,Serraglio fez um discurso em que sinalizava que não iria patrocinar tentativas de salvar o mandato do presidente da Casa. Dois dias depois, o Supremo Tribu- nal Federal afastava Cunha do cargo e do mandato.

Antes de presidir a CCJ, Serraglio havia atuado em outro episódio de forma alinhada a Cunha. O peemedebis­ta relatou projeto em que o então presidente da Câmara tentava retaliar o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Na época, Serraglio acatou emenda de um aliado de Cunha, o deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), que vetava a possibilid­ade de recondução de Janot ao cargo. Cu- nha acusava o procurador-geral de persegui-lo.

Serraglio também manifestou algumas vezes dúvidas sobre a validade de o presidente da Câmara ser cassado por ter negado, em depoimento à CPI da Petrobras, manter contas no exterior.

Em entrevista ao “El País” logo após a votação que aprovou a autorizaçã­o para o impeachmen­t de Dilma Rousseff, Serraglio disse, segundo a reportagem,queaperdad­omandato era uma punição muito severa para a mentira na CPI.

A primeira função de projeção nacional do peemedebis­ta foi a relatoria da CPI dos Correios, que apurou o caso do mensalão, em 2005.

Alçado à função na época com o apoio do governo, acabou chegando ao final em atrito político com os aliados de Luiz Inácio Lula da Silva.

Anos depois, o deputado admitiu à Folha que cedeu a pressões para tirar de seu relatório final menções ao nome de um filho de Lula.

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