Folha de S.Paulo

Serraglio tem ligação com agronegóci­o

- RUBENS VALENTE

O deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) tem o agronegóci­o como um de seus principais­doadoresde­campanha, o que não o impediu de relatar matéria de interesse do setor, como a PEC 215, que altera o sistema de demarcação de terras indígenas.

Serraglio declarou ter arrecadado R$ 1,4 milhão em doações para a campanha eleitoral de 2014. Desse total, R$ 470 mil, ou 31%, vieram de empresas ligadas ao campo, como indústrias avícolas e uma fabricante de herbicidas.

No código de ética e decoro parlamenta­r da Câmara, não há vedação clara a situação semelhante. O documento diz que o deputado está proibido de relatar matéria “de interesse específico” de “pessoa física ou jurídica” que tenha contribuíd­o na campanha, não fazendo referência a setores da economia.

Em 2011, Serraglio foi escolhido relator da PEC 215 que, se tirada do papel, estenderá ao Congresso a atribuição, hoje restrita ao Executivo por meio do Ministério da Justiça e da Funai (Fundação Nacional do Índio), de localizar e demarcar terras indígenas.

A proposta gerou forte reação de entidades, a ponto de um grupo de cerca de cem indígenas invadir o plenário da Câmara em abril de 2013.

A PEC foi apresentad­a pela primeira vez em 2000. Quando Eduardo Cunha (PMDBRJ), hoje preso em decorrênci­a da Lava Jato, foi eleito presidente da Câmara, em 2015, ela voltou a ganhar força.

Cunha autorizou a retomada de uma comissão especial para analisar a matéria e Serraglio assumiu de novo a condução dos trabalhos. Seu relatório apoiou os principais pontos defendidos pela bancada ruralista, da qual ele faz parte. A PEC foi aprovada na comissão e ainda será analisada em plenário.

A Fenapef (Federação Nacional dos Policiais Federais) disse não ter vetos ao nome de Serraglio para o ministério. A PF também estará sob a alçada de Serraglio.

“É óbvio que gera preocupaçã­o, por ele ser do PMDB, partido que tem nomes importante­s na investigaç­ão da Lava Jato, mas nada que possa acender um alerta vermelho na PF, no sentido de que possa ameaçar o andamento das investigaç­ões”, disse Luís Antônio Boudens, presidente da Fenapef, que representa cerca de 15 mil policiais.

Em nota assinada pelo presidente, Carlos Eduardo Sobral, a ADPF (Associação dos Delegados da PF) também apoiou a escolha de Serraglio.

Os maiores doadores da campanha eleitoral de Serraglio em 2014, com R$ 200 mil, são a Porto Seguro e a indústria de carnes JBS, controlada pelos irmãos Wesley e Joesley Batista por meio da J&F. Um dos braços do grupo empresaria­l é alvo de uma investigaç­ão da Polícia Federal.

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