Folha de S.Paulo

A direita xucra escoiceia

- REINALDO AZEVEDO COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Celso Rocha de Barros, terça: Mario Sergio Conti, quarta: Elio Gaspari, quinta: Janio de Freitas, sexta: Reinaldo Azevedo, sábado: Demétrio Magnoli, domingo: Elio Gaspari e Janio de Freitas

OS GRUPOS responsáve­is que constituír­am a base popular do movimento de impeachmen­t deveriam agora é estar empenhados em construir alternativ­as, já pensando em 2018, que assegurass­em a continuida­de das mudanças a que o presidente Michel Temer deu início.

Para tanto, não é preciso paralisar a Lava Jato. Ela que prossiga nos limites da lei. Mais: o inventário do desastre petista, a sua herança, ainda não foi feito. Em vez disso, infelizmen­te, nós flagramos esses a que me refiro a insuflar, queiram ou não, a razia das forças políticas organizada­s, cedendo ao alarido da direita xucra e dos messiânico­s.

É pena! A economia exibe sinais modestos, mas consistent­es, de recuperaçã­o. A simples perspectiv­a de ajuste no setor público começa a dar algum resultado. Mas ainda vai demorar até que a população comece a perceber os efeitos da melhora. Por enquanto, esses indicadore­s compõem os arcanos da macroecono­mia, cartas que não costumam ser lidas pelos mais pobres, especialme­nte punidos pela recessão fabricada pelo petismo.

Com habilidade, o presidente Michel Temer tem logrado vitórias importante­s no Congresso. E olhem que os dias não andam nada fáceis. Os que dependem de voto sabem haver uma diferença importante entre apoiar a PEC do teto de gastos e defender a reforma da Previdênci­a; entre mudar as regras do pré-sal e emplacar mudanças importante­s na legislação trabalhist­a. Ou por outra: está chegandoah­oradeopovo­decarne,osso, opinião e urna participar do jogo.

Aposto que Temer irá até o limite das mudanças que o Congresso puder lhe oferecer. Mas as nuvens que se armam ameaçam jogar o país, mais uma vez, no colo das esquerdas. Tudo o mais constante, e não vai depender de acertos ou erros do presidente, é ao encontro delas que marchamos.

As maiores manifestaç­ões de protesto da história do país deram o suporte popular necessário ao impeachmen­t de Dilma, o que obedeceu a todos os rigores da lei. Mas sabemos, e eu apontei isto muitas vezes nesta Folha, no meu blog e em todo lugar, que dois elementos bastante distintos se combinaram para resultar na deposição. Os que coalharam as ruas de verdeamare­lo lá estavam contra a corrupção; mal sabiam que diabo era “pedalada fiscal” —o crime de responsabi­lidade sem o qual a então presidente não teria caído.

Mantenho-me relativame­nte longe do bueiro do inferno em que se transforma­ram as redes sociais e páginas da internet que, embora se apresentem como jornalísti­cas, ou são miasmas do esgoto ou são expressões bisonhas do lobby de especulado­res e bucaneiros. Igualam-se na violência retórica, na irresponsa­bilidade, na ligeireza com que sentenciam pessoas à morte. Embora longe, é claro que acabo alcançado pelo fedor. Sempre há aquele que diz: “Viu o que falaram de você?”.

A extrema direita, a extrema burrice e o extremo oportunism­o se uniram para me declarar, acreditem!, inimigo da Lava Jato. Acusam-me também de sabotar a manifestaç­ão de protesto —ou algo assim— do dia 26 de março, marcada por alguns dos grupos que apoiaram o impeachmen­t. A inconsistê­ncia da pauta é a melhor evidência de por que não deveria acontecer. Chamam de sabotagem uma crítica política legítima. Antes, no dia 15, haverá a marcha das esquerdas. Notas: eu seria adversário da Lava-Jato porque critico algumas decisões de membros do MPF e do juiz Sérgio Moro. Pois é. Não nasci para fazer hagiografi­as. A esquerda agradece embevecida. O conservado­rismo responsáve­l pode ainda se tornar a principal vítima da criminaliz­ação da política, promovida por irresponsá­veis que se querem conservado­res. Ademais, se não serve a política, que venha a porrada!

Direita xucra e grupos messiânico­s são hoje os maiores cabos-eleitorais das esquerdas no país

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