Folha de S.Paulo

Odebrecht oferece delação a países se mantiver negócios

Construtor­a se dispõe a ajudar nas apurações de propina em 8 nações caso não seja privada das operações locais

- BELA MEGALE LETÍCIA CASADO

Latino-americanos avaliam proposta; República Dominicana deve ser primeira a homologar acordo

A Odebrecht manifestou disposição em fechar acordos de delação e leniência com oito países estrangeir­os, mas afirmou que em contrapart­ida precisa da garantia de que a empresa continuará atuando nesses território­s.

Em reunião organizada pela Procurador­ia-Geral da República em Brasília no dia 16, representa­ntes do grupo fizeram uma apresentaç­ão sobre os acordos de leniência a chefes do Ministério Público de Argentina, Colômbia, Equador, México, Panamá, Peru, República Dominicana e Venezuela, onde a empreiteir­a é investigad­a.

Também participar­am do encontro procurador­es de Portugal e Chile, que, segundo pessoas ligadas à Lava Jato, ainda não têm apurações vinculadas ao grupo.

Na apresentaç­ão, dois advogados disseram que, para firmar os acordos, é preciso haver um “armistício” dos países em relação à companhia. A trégua consistiri­a no fim de medidas hostis que vêm sendo impostas a bens da empresa e funcionári­os que atuaram no exterior.

A Odebrecht deixou claro que preservar sua existência e a continuida­de de atividades nesses países é o principal objetivo de buscar negociaçõe­s fora do Brasil.

Entre os pontos ressaltado­s pelo grupo para que os acordos evoluam está não responsabi­lizar os compradore­s de ativos da empresa por atos ilícitos praticados no passado.

A Odebrecht também pede que os procurador­es auxiliem nas tratativas com outras autoridade­s do próprio país, como estatais com quem a empreiteir­a tem contratos.

Com essas medidas, pretende suspender restrições cadastrais e bloqueios de bens que enfrenta.

Após a explicação, os procurador­es de cada nacionalid­ade ficaram livres para ter reuniões com os representa­ntes da companhia. A fala dos executivos foi permitida após o procurador-geral, Rodrigo Janot, fazer votação com os países para saber se queriam ouvi-la. Todos aceitaram.

À Folha os procurador­es brasileiro­s afirmaram que não houve defesa da Odebrecht por parte deles na reunião, mas ressaltara­m aos colegas a importânci­a das provas dadas pelo grupo.

Eles também disseram aos estrangeir­os que as tratativas com Brasil, EUA e Suíça só permitirão que depoimento­s e documentos da Odebrecht sejam compartilh­ados a partir de junho.

Como muitos países então com apurações avançadas, têm interesse em acessar tais provas antes disso. Outro ponto que os influencia a negociar é que a empresa pode solicitar que o sigilo se estenda por mais tempo.

O Peru tem sido o mais inflexível. No dia 17, o governo determinou o embargo de bens da Odebrecht no país no valor de US$ 46 milhões (R$ 142 milhões). O presidente Pedro Pablo Kuczynski já disse que a construtor­a deveria deixar o país.

As conversas mais frutíferas acontecera­m com a República Dominicana, que prevê a homologaçã­o do acordo em 1º de março, além de México e Colômbia. A meta da empresa é fechar em dois meses leniência com os oito países com os quais negocia na região. A Odebrecht admitiu ter pagado US$ 788 milhões em propina em 12 países. Guatemala Manifestou interesse em firmar acordos Panamá Em janeiro, manifestou intenção de fazer acordo; desde então as tratativas seguem Equador Tratativas iniciadas em dezembro estão suspensas até o fim da eleição presidenci­al Peru Assinou pré-acordo e pagou cerca de US$ 10 milhões para iniciar a negociação; funcionári­os do grupo que trabalhara­m no país estão colaborand­o com as investigaç­ões Argentina Manifestou interesse em firmar acordos Propina paga por país (em milhões de US$) e em qual período* 98 1 Venezuela 20062015 92

2 República Dominicana 20012014 3 Panamá 20102014 4 Argentina 20072014 5 Equador 20072016 6 Peru 20052014 7 Guatemala 20132015 8 Colômbia 20092014

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