Folha de S.Paulo

Queda de preço leva produtor a arrancar pés de erva-mate na ‘capital do chimarrão’

- PAULA SPERB

FOLHA,

Agricultor­es de Venâncio Aires (a 104 km de Porto Alegre), detentora do título de “capital nacional do chimarrão”, estão destruindo os pés de erva-mate devido à queda do preço pago aos produtores.

As ervateiras, empresas que preparam e embalam a erva para a venda, pagam R$ 8 aos agricultor­es por arroba (15 quilos). Em 2014, o valor da arroba chegou a R$ 18. Cada arroba resulta em sete quilos de erva-mate para venda.

Nos supermerca­dos gaú- chos, a erva-mate é vendida por R$ 10 o quilo, em média. Em 2013 e 2014, o consumidor pagou cerca de R$ 15 por um quilo do produto.

“Foi difícil até decidir arrancar as plantas. Eu me criei cortando erva. Agora não dá mais, o valor pago está muito baixo, meus músculos não aguentam mais e não tenho ninguém para me substituir”, diz o agricultor João Nilson da Silva, 67, que arrancou seis hectares de erva-mate no ano passado.

“O grande vilão da história é o preço pago para o produtor”, diz Sandra Wagner, diretora do Sindicato dos Tra- balhadores Rurais de Venâncio Aires. De acordo com a diretora, a valorizaçã­o da arroba gerou uma corrida na produção e agora há excesso, o que desvaloriz­a o produto.

Em 2014, o Rio Grande do Sul colheu 276.232 toneladas de erva-mate, ante 128.300 toneladas em 1990. Como a planta é colhida, em média, de dois em dois anos, quem plantou no auge agora vê o produto desvaloriz­ado.

A diretora diz que a maioria dos agricultor­es está substituin­do a erva-mate por plantação de aipim, que se adapta bem ao solo da região.

Apesar da alcunha de ca- pital do chimarrão, Venâncio Aires já não é a líder no ranking de produção de erva-mate e de área plantada.

O líder em plantação no Estado é, hoje, Ilópolis, cujo nome é derivado de Ilex paraguarie­nsis, o nome científico da erva-mate. INDÚSTRIA “O que está ocorrendo é um ajuste de produção. São arrancados os ervais que não estão bem”, afirma Gilberto Luiz Heck, proprietár­io da ervateira Elacy.

A empresa tem sede em Venâncio Aires, mas a maior parte da matéria-prima vem do Paraná.

Heck estima que o setor tenha um cresciment­o de 30% na produção em 2017. “É até preocupant­e. Não estamos conseguind­o aumentar a demanda de consumo.”

 ?? Gustavo Roth - 29.out.07/Folhapress ?? Variedades de erva-mate em mercado em Porto Alegre
Gustavo Roth - 29.out.07/Folhapress Variedades de erva-mate em mercado em Porto Alegre

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil