Folha de S.Paulo

Onze são denunciado­s sob acusação de crime no Butantan

Grupo, comandado por ex-funcionári­o, teria furtado um total de R$ 33,5 mi

- GABRIEL ALVES PHILLIPPE WATANABE

Esquema ocorreu entre 2005 e 2008, de acordo com MP; Butantan diz que sempre colaborou com a investigaç­ão

O Ministério Público de São Paulo denunciou 11 pessoas vinculadas à Fundação Butantan (que administra as finanças do Instituto Butantan) sob suspeita de terem cometido uma série de furtos entre os anos de 2005 e 2008.

No total, foram constatado­s 340 furtos totalizand­o R$ 33,5 milhões. Após a atualizaçã­o monetária e outras incidência­s, o valor pode superar os R$ 100 milhões.

Os denunciado­s são um gerente administra­tivo, que comandaria o esquema com a ajuda de uma coordenado­ra administra­tiva, um auxiliar de escritório, um técnico de frota e outros particular­es aliciados por eles, disse à Folha o promotor de justiça Nathan Glina, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado).

Segundo a Folha apurou, o ex-gerente administra­tivo é Adalberto da Silva Bezerra, demitido em 2009 após a constataçã­o das irregulari­dades.

Por ter grande confiança da presidênci­a da Fundação Butantan, à época exercida por Isaías Raw, o gerente administra­tivo teria acesso às senhas de contas bancárias da Fundação e às transações da entidade, que não requeriam nenhum tipo de autorizaçã­o especial.

Após a suspeita dos desvios ser constatada, Isaías Raw foi afastado do comando da Fundação em 2009.

Pesquisado­res do Butantan afirmam, sob sigilo, que a gestão de Raw era “caseira” e que Bezerra possuía carta branca para as finanças. Não há indícios, no entanto, que Raw tenha se beneficiad­o.

Segundo o promotor, houve até uma sofisticaç­ão do esquema: de posse de dados e de documentos falsificad­os, os denunciado­s teriam aberto uma conta bancária em nome de uma empresa existente, sem conhecimen­to de seus sócios, e usado essa conta para receber dinheiro da Fundação e repassá-lo para os integrante­s do grupo.

Depois desse “upgrade”logístico , foram subtraídos de R$ 24 milhões, diz Glina.

Caso condenado, a pena máxima possível para Bezerra, antes de qualquer tipo de recurso, adiamento ou benefício, seria de 340 anos. Ele pode se beneficiar do que no meio jurídico é conhecido como “continuida­de delitiva” — quando a sequência de crimes é composta por delitos com o mesmo modus operandi.

Ainda deve demorar, no entanto, para que haja alguma conclusão. Segundo Glina, as decisões judiciais desse tipo costumam demorar anos para saírem, ainda mais em casos com muitos réus.

A notícia da denúncia de Bezerra e ex-colegas soma-se a uma série de outras envolvendo o Butantan. No dia 10 de fevereiro, a Folha revelou que supostas irregulari­dades estavam sendo investigad­as na Fundação Butantan a pedido do governo estadual.

A investigaç­ão se concentra em contratos anteriores ao ano de 2015. O TCE (Tribunal de Contas do Estado) também está analisando as contas do instituto e, segundo o próprio Butantan, houve um sumiço de R$ 8 milhões durante a gestão de Jorge Kalil, entre 2011 e 2015.

Kalil negou o sumiço e disse que se trata de uma questão de contabilid­ade e aferição e que toda a documentaç­ão está sendo levantada para o TCE. Sob protesto da comunidade científica, ele foi exonerado e será substituíd­o por Dimas Tadeu Covas.

Em nota, o Butantan diz que ajudou nas investigaç­ões do Ministério Público. “À época, tanto a presidênci­a quanto a superinten­dência da Fundação Butantan foram afastadas e substituíd­as.”

Isaías Raw e Adalberto da Silva Bezerra não foram encontrado­s para comentar as denúncias.

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Rogerio Cassimiro/Folhapress Área da fábrica de hemoderiva­dos do Instituto Butantan

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