Onze são denunciados sob acusação de crime no Butantan
Grupo, comandado por ex-funcionário, teria furtado um total de R$ 33,5 mi
Esquema ocorreu entre 2005 e 2008, de acordo com MP; Butantan diz que sempre colaborou com a investigação
O Ministério Público de São Paulo denunciou 11 pessoas vinculadas à Fundação Butantan (que administra as finanças do Instituto Butantan) sob suspeita de terem cometido uma série de furtos entre os anos de 2005 e 2008.
No total, foram constatados 340 furtos totalizando R$ 33,5 milhões. Após a atualização monetária e outras incidências, o valor pode superar os R$ 100 milhões.
Os denunciados são um gerente administrativo, que comandaria o esquema com a ajuda de uma coordenadora administrativa, um auxiliar de escritório, um técnico de frota e outros particulares aliciados por eles, disse à Folha o promotor de justiça Nathan Glina, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado).
Segundo a Folha apurou, o ex-gerente administrativo é Adalberto da Silva Bezerra, demitido em 2009 após a constatação das irregularidades.
Por ter grande confiança da presidência da Fundação Butantan, à época exercida por Isaías Raw, o gerente administrativo teria acesso às senhas de contas bancárias da Fundação e às transações da entidade, que não requeriam nenhum tipo de autorização especial.
Após a suspeita dos desvios ser constatada, Isaías Raw foi afastado do comando da Fundação em 2009.
Pesquisadores do Butantan afirmam, sob sigilo, que a gestão de Raw era “caseira” e que Bezerra possuía carta branca para as finanças. Não há indícios, no entanto, que Raw tenha se beneficiado.
Segundo o promotor, houve até uma sofisticação do esquema: de posse de dados e de documentos falsificados, os denunciados teriam aberto uma conta bancária em nome de uma empresa existente, sem conhecimento de seus sócios, e usado essa conta para receber dinheiro da Fundação e repassá-lo para os integrantes do grupo.
Depois desse “upgrade”logístico , foram subtraídos de R$ 24 milhões, diz Glina.
Caso condenado, a pena máxima possível para Bezerra, antes de qualquer tipo de recurso, adiamento ou benefício, seria de 340 anos. Ele pode se beneficiar do que no meio jurídico é conhecido como “continuidade delitiva” — quando a sequência de crimes é composta por delitos com o mesmo modus operandi.
Ainda deve demorar, no entanto, para que haja alguma conclusão. Segundo Glina, as decisões judiciais desse tipo costumam demorar anos para saírem, ainda mais em casos com muitos réus.
A notícia da denúncia de Bezerra e ex-colegas soma-se a uma série de outras envolvendo o Butantan. No dia 10 de fevereiro, a Folha revelou que supostas irregularidades estavam sendo investigadas na Fundação Butantan a pedido do governo estadual.
A investigação se concentra em contratos anteriores ao ano de 2015. O TCE (Tribunal de Contas do Estado) também está analisando as contas do instituto e, segundo o próprio Butantan, houve um sumiço de R$ 8 milhões durante a gestão de Jorge Kalil, entre 2011 e 2015.
Kalil negou o sumiço e disse que se trata de uma questão de contabilidade e aferição e que toda a documentação está sendo levantada para o TCE. Sob protesto da comunidade científica, ele foi exonerado e será substituído por Dimas Tadeu Covas.
Em nota, o Butantan diz que ajudou nas investigações do Ministério Público. “À época, tanto a presidência quanto a superintendência da Fundação Butantan foram afastadas e substituídas.”
Isaías Raw e Adalberto da Silva Bezerra não foram encontrados para comentar as denúncias.