Folha de S.Paulo

Após morte do pai, filho de presidente da Chape continua jogando na base do clube

- GUILHERME SETO

Matheus Pallaoro, 17, carrega em tatuagem o provérbio do pai: “sonhe sem limites e acredite com todas as forças”, enrolada como se fosse uma pulseira que nunca se desprende do antebraço direito. Nos vestiários, antes dos jogos, o garoto mentaliza as palavras para sustentar o peso da responsabi­lidade diante do legado do progenitor no clube.

Destaque das categorias de base da Chapecoens­e, Matheus é uma figura simbólica no processo de reconstruç­ão do clube. O meiaatacan­te tenta prolongar dentro de campo o projeto deixado pelo pai, Sandro Pallaoro, presidente entre novembro de 2010 e novembro de 2016. Ele foi uma das vítimas da queda do avião que levava o time a Medellín (COL) e deixou 71 mortos.

Ele treina na Chapecoens­e desde que seu pai criou as categorias de base do clube, em 2012, quando tinha 12 anos.

Antes disso, ele praticava futebol de salão em uma pequena escola de futebol vinculada ao Internacio­nal.

“O pai foi tudo para mim. Ele sempre me incentivou e me inspirou. Eu o via na ‘pelada’ e também aprendia a jogar futebol assim. Depois do que aconteceu, vou tentar honrar ainda mais o que ele fez”, diz Matheus à Folha.

Meia-atacante destro que vê seus pontos fortes nos passes e finalizaçõ­es, o garoto se espelha em um craque do passado que tem quase quatro vezes a sua idade e se aposentou em 1994, cinco anos antes que ele nasces- se. Zico, 63, era ídolo de seu pai, que estava com viagem marcada para o Rio para conhecer o “camisa 10 da Gávea” no tradiciona­l amistoso disputado no Maracanã pelo flamenguis­ta e seus amigos. Com a tragédia, o “Galinho” prestou homenagem a Pallaoro e incluiu Matheus entre os convidados.

“Quando chegamos ao Maracanã, o Zico já nos recepciono­u, disse que queria nos conhecer. Foi muito bacana”, conta Matheus, também admirador de Ronaldo “Fenômeno” e Neymar.

Em janeiro deste ano, ele viajou ao Qatar para a disputa de torneio amistoso com a equipe sub-17 da Chapecoens­e. O convite foi feito pelo sheik Hamad Bin Khalifa Bin Ahmed Al Thani após a tragédia em 2016.

“Foi o melhor torneio que já jogamos, muito organizado. Nunca imaginei que enfrentari­a o Bayern de Munique. As pessoas ficaram curiosasco­maChapecoe­nse,queriam saber o tamanho da cidade e do clube e se já estava se reerguendo ou se tinha acabado. Respondia que a equipe já estava pronta e prestes a voltar a jogar”, afirma, empolgando-se também ao lembrar da palestra que foi dada pelo meia espanhol Xavi.

Sua mãe, Duda, diz que se preocupou após o acidente e questionou o filho e uma psicóloga para saber se as categorias de base da Chapecoens­e eram o melhor lugar para ele estar naquele momento. Matheus tomou a decisão de que ele queria continuar lá.

“Antes de jogar, rezo, me concentro e até me emociono. Meu sonho hoje é conquistar um título grande pela Chapecoens­e. Conseguimo­s a Sul-Americana, agora eu quero a Copa do Brasil ou a Libertador­es”, diz ele, que projeta estar entre os profission­ais do clube em menos de dois anos.

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Divulgação/Chapecoens­e Matheus tenta drible contra jogador do Bayern de Munique

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