Folha de S.Paulo

CRÍTICA ‘Constelaçõ­es’, aos trancos, conta uma história de amor

Mais tradiciona­l do que promete, peça pede menos física e mais dinamismo

- NELSON DE SÁ

Festejada em Londres pela costura que faz entre uma relação amorosa e a física quântica, “Constelaçõ­es” está mais para a primeira do que para a segunda.

É uma comédia romântica que pende para o drama —como tantas que Hollywood produz— com algumas pitadas menos tradiciona­is.

Por exemplo, não se passa numa sala de estar ou cozinha, como é padrão em peças assim, mas num cenário abstrato, que remete ao universo e, para confundir mais as coisas, à teoria das cordas. Já os diálogos repetitivo­s de Nick Payne remetem ao multiverso e por aí vai.

Ele não é o primeiro nem o mais bem-sucedido dramaturgo a recorrer à ciência pa- ra abordar temas mais mundanos. Um exemplo recente por aqui é Oswaldo Mendes, com “Insubmissa­s”. E o mais celebrado é o também inglês Tom Stoppard, com peças como “The Hard Problem”.

Stoppard ajudou a expor os limites de peças assim ao reclamar, publicamen­te, que os espectador­es não entendem as citações que faz. O problema, é claro, não está nos espectador­es.

Em “Constelaçõ­es”, a questão é mais constrange­dora porque, sem a névoa das metáforas científica­s, resta muito pouco. As conversas do casal se repetem não como reflexo de universos paralelos, mas como eco de improvisaç­ões de algum ensaio.

Apesar das rubricas algo pretensios­as, que comandam cada troca de posição dos atores como “uma mudança no universo”, elas lembram uma retomada de cena ordenada por um diretor obsessivo.

“Constelaçõ­es” é engraçada, muitas vezes, e seus personagen­s e trocas de caminho durante os diálogos fazem a festa dos atores.

Marília Gabriela, que vive Marianne, causa fascínio em cena —o que parece resultar menos da trajetória de televisão e mais de sua exuberânci­a física e evidente empatia. Cada vez mais voltada e experiente no teatro, consegue acrescenta­r, a cada variação nos diálogos, novas intenções, gestos, entonações.

Ainda assim, sua inseguranç­a contrasta com a facilidade que Caco Ciocler, tão mais experiente como ator, demonstra no papel de Roland. (O espectador, por sinal, deve checar se Ciocler está realmente escalado para a QUANDO sex. e sáb., às 21h; dom., às 18h; até 19/3 ONDE Sesc Santana, av. Luiz Dumont Vilares, 579, zona norte de São Paulo, tel. (11) 2971-8700 QUANTO R$ 12 a R$ 40 AVALIAÇÃO bom

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