Folha de S.Paulo

A Game of Trolls

- CELSO ROCHA DE BARROS COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Celso Rocha de Barros, terça: Mario Sergio Conti, quarta: Elio Gaspari, quinta: Janio de Freitas, sexta: Reinaldo Azevedo, sábado: Demétrio Magnoli, domingo: Elio Gaspari e Janio de Freitas

COMO DIRIA o comissário Gordon, não foi o debate de que precisávam­os, mas talvez tenha sido o debate que merecíamos. Uma pequena guerra civil começou dentro da chamada “nova direita” brasileira: Reinaldo Azevedo, colunista da Folha, foi atacado por Joice Hasselmann, ex“Veja”, e por Rodrigo Constantin­o, ex-”Veja”, por suas críticas à Lava Jato, e respondeu animadamen­te.

Intelectua­lmente, foi um daqueles jogos em que o compacto com os melhores momentos tem só o hino nacional e o apito final. Mas o barraco dos conservado­res foi o canário na mina: é sinal de uma crise chegando, e de uma disputa real dentro da direita brasileira, que deve se tornar mais acirrada nos próximos meses.

A direita brasileira precisa se decidir sobre Temer; abandoná-lo é colocar em risco as reformas de mercado, apoiá-lo é colocar-se no centro do alvo da Lava Jato. Não será fácil.

Azevedo defende o governo Temer e, recentemen­te começou a fazer críticas à Lava Jato. Talvez o apoio e o timing das críticas não sejam completame­nte não relacionad­os. Ao contrário de Olavo de Carvalho ou Constantin­o, Azevedo tem trânsito na direita institucio­nal brasileira; suas posições são mais ou menos próximas das do DEM, por exemplo, ou da direita do PSDB. Esses setores investiram pesadament­e no governo Temer. E todo mundo ali vai aparecer nas delações.

Para essa turma, o ideal é que a cruzada anticorrup­ção pare no PT, e o discurso “Temer colocou o Brasil nos trilhos de novo” tem que colar até a eleição de 2018. Se der certo, os governista­s entram com boas chances na disputa presidenci­al.

Os adversário­s de Azevedo são recém-chegados buscando maior inserção institucio­nal. Não se importaria­m se a política brasileira implodisse. No cenário de implosão, Azevedo os ameaça com Lula; mas eles sonham, aberta ou secretamen­te, com Bolsonaro. E, sobretudo, cada um deles sonha ser Steve Bannon, o assessor de extrema-direita de Trump.

Os movimentos anti-Dilma tentam se equilibrar no meio dessa tensão. Recentemen­te, convocaram uma passeata a favor da Lava Jato. Mas a convocação é uma piada: em vez de tentar atrair o maior público possível para defender a operação, o Movimento Brasil Livre incluiu na pauta dos protestos a reforma da Previdênci­a e a revogação do Estatuto do Desarmamen­to. Fez isso para impedir que apareça qualquer um que se disponha a gritar “Fora, Temer”. Isto é, o MBL apoia a Lava Jato desde que o seu lado continue no poder. Como diria o PT, assim até eu.

Por sua vez, Ronaldo Caiado não disfarça a pretensão de ser candidato a presidente no ano que vem. Olhando com os olhos de 2018, Caiado já se apavorou com o que viu, e pediu a renúncia de Temer. Mas é difícil que arraste consigo sua base social ou o resto da direita, ao menos enquanto Temer estiver amarrado às reformas. E quem se converter ao “Fora, Temer” tão perto de 2018 vai parecer oportunist­a (e o será).

A história não contada do impeachmen­t de Dilma Rousseff é justamente sua origem na crise de liderança da direita brasileira depois da quarta derrota presidenci­al seguida do PSDB. Desde então, a direita brasileira foi liderada por quem gritasse mais alto. Agora a combinação de delações contra a direita e eleições presidenci­ais vai testar a competênci­a política dos vencedores de 2016.

Barraco dos conservado­res é um sinal da disputa dentro da direita, que ainda não se decidiu sobre Temer

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