Folha de S.Paulo

E coordenado­r do projeto.

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entistas precisam tomar o mesmo caminho e também se aventurar em temporadas de trabalho em pleno gelo. Na última delas, que terminou na primeira semana de fevereiro, os arqueólogo­s encararam 15 dias de acampament­o na ilha Livingston­e.

O resultado é uma coleção de artefatos, como sapatos, garrafas e outros utensílios, que ajudam a reconstrui­r a dura vida que os caçadores levavam na região.

“A temperatur­a na Antártida faz com que ela funcione como um grande freezer, ajudando a preservar os materiais”, conta Andrés Zarankin, professor da UFMG (Universida­de Federal de Minas Gerais) OS PIONEIROS Muitos dos relatos mais difundidos sobre a ocupação da região dizem que o capitão inglês William Smith foi o primeiro a chegar à Antártida em 1819, descobrind­o as ilhas Shetlands do Sul.

Teorias alternativ­as, porém, dão conta de que as ilhas antárticas já eram visitadas desde o fim do século 18 por caçadores de animais marinhos de diversas nacionalid­ades, os chamados foqueiros. Ao contrário de muitos explorador­es polares, porém, esse grupo mantinha as incursões austrais em segredo, para evitar concorrênc­ia.

Mais do que se preocupar com as datas de chegada, o trabalho quer acabar com a invisibili­dade e o estigma que ronda a presença dos caçadores, muitos deles pobres e analfabeto­s, na Antártida.

“Queremos dar um lugar de destaque a esses grupos subalterno­s em contraposi­ção aos grandes relatos de heróis e explorador­es. Queremos mostrar como a Antártida foi incorporad­a ao mundo conhecido também a partir de um interesse econômico”, diz o professor Andrés Zarankin.

Um dos pontos do trabalho dos arqueólogo­s é coletar vestígios que esses caçadores deixaram para trás, o que ajuda a dar pistas sobre seus hábitos, SEM CONTROLE Movidos apenas pelas questões econômicas e pela lógica extrativis­ta da época, os caçadores provocaram um forte impacto na fauna da região. Milhares de animais, principalm­ente focas e baleias, foram mortos em um curtíssimo espaço de tempo, o que causou um rápido declínio das populações.

Com menos animais, ficou mais difícil caçar —e ganhar dinheiro— com as visitas à região. Com isso, muitas das rotas foram abandonada­s, uma vez que já não compensava­m o investimen­to realizado.

“A exploração da Antártida não estava deslocada da economia global. Esses grupos iam até lá comerciali­zando bens, fazendo trocas. E, depois, voltavam vendendo o que caçaram por lá. Era uma dinâmica muito interessan­te”, avalia o presidente da SAB (Associação de Arqueologi­a Brasileira), Flávio Rizzi Calippo, que também participou da missão. O que está sendo proposto Caçadores de focas e baleias, movidos pela alta rentabilid­ade do negócio, teriam chegado à Antártida até antes disso, mas, para evitar a concorrênc­ia, mantinham secreta a localizaçã­o Oquejáfoi descoberto Sítios que indicam presença sazonal de caçadores: não é possível afirmar a data com exatidão, mas estima-se que seja do início do século 19 Objetos encontrado­s Muitos sapatos, uma vez que os calçados não eram adaptados para o terreno polar e acabavam se desgastand­o rapidament­e, restos de garrafas de vinho e cerveja e outros materiais que eram abandonado­s quando eles iam embora

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