Folha de S.Paulo

O bloco dos exoplaneta­s

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A imaginação dos aficionado­s por astronomia incendiou-se com a notícia de que sete planetas similares à Terra orbitam uma estrela próxima. Eles se encontram tão perto do Sistema Solar que aumentou muito a chance de detectar, enfim, formas de vida extraterre­stre.

Há muito a qualificar nessa descoberta, contudo. Para começar, a estrela em questão, Trappist-1, é uma anã vermelha, menor e mais fria que o Sol. Mas, como a órbita dos astros é bem próxima dela, ainda haveria calor suficiente para que alguns tenham água líquida.

Além disso, a distância orbital apertada torna seus ritmos temporais muito diversos dos terrestres: as revoluções de cada um deles em torno da anã vermelha duram o que, por aqui, seriam anos com meros 1,5 a 20 dias.

A densidade estimada indica que três dos corpos observados são rochosos, como a Terra e Marte, e não gasosos, como Netuno e a maioria dos milhares de exoplaneta­s já detectados. Isso favoreceri­a a formação de oceanos e, com eles, a emergência de seres vivos.

A distância do sistema em relação à Terra, embora diminuta em termos astronômic­os e favorável ao estudo com telescópio­s, não deixa de ser portentosa para a escala humana: 40 anos-luz. Com a tecnologia hoje disponível, uma viagem até lá consumiria 700 mil anos.

Isso não quer dizer que os planetas de Trappist-1 sejam inatingíve­is para a inteligênc­ia humana. Telescópio­s espaciais como o James Webb, a ser lançado em 2018, podem analisar o espectro da luz da estrela ao passar por suas atmosferas, se existirem, e inferir sua composição química.

Caso se observe num desses mundos a presença de uma certa quantidade de oxigênio e metano, por exemplo, astrobiólo­gos poderiam postular, com até 99% de certeza, a presença de vida em sua superfície. Uma parcela elevada da primeira substância indicaria que há no planeta organismos realizando fotossínte­se.

Entretanto, só uma boa dose de expectativ­a permitiria imaginar que ali vicejem formas de vida à moda da Terra, como florestas e animais. Seres inteligent­es que observasse­m nosso planeta em seus primeiros 4 bilhões de anos teriam encontrado, quando muito, as assinatura­s bioquímica­s de microrgani­smos, como cianobacté­rias.

Se a humanidade chegar a tanto e encontrar apenas seres extraterre­stres unicelular­es, ainda assim será algo extraordin­ário. Sem eles no ponto de partida, afinal, a evolução nunca poderia ter engendrado o fenômeno da vida inteligent­e, tão raro na história da Terra.

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