Folha de S.Paulo

Lula pode ficar inelegível em plena campanha presidenci­al

Prazo médio da Lava Jato para julgamento em 2ª instância é de menos de 2 anos

- ESTELITA HASS CARAZZAI

Se seguida a tendência, eventual condenação ocorreria na corrida presidenci­al; petista poderia recorrer

Se seguirem o ritmo de outros processos, as ações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que correm pelas mãos de Sergio Moro podem torná-lo inelegível ainda antes do pleito de outubro de 2018.

Levantamen­to da Folha nas seis ações da Lava Jato já julgadas em segunda instância mostra que levam, em média, 1 ano e 10 meses até chegarem a um veredicto no TRF (Tribunal Regional Federal) —a partir da denúncia.

Mantido esse ritmo, o petista ficaria inelegível em meio à campanha de 2018 — entre julho e outubro.

A inelegibil­idade está na Lei da Ficha Limpa, que estabelece que todo condenado por um colegiado está impedido de se candidatar.

Porém, mesmo condenado, o ex-presidente poderia concorrer se pedir uma liminar contra a decisão do TRF até o julgamento de recursos no STJ (Superior Tribunal de Justiça) ou STF (Supremo Tribunal Federal).

O petista, hoje, lidera as pesquisas de intenção de voto para 2018. No Datafolha, está à frente de todas as simulações de primeiro turno. No segundo turno, fica atrás de Marina Silva (Rede).

O advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, afirma que não considera a possibilid­ade de ele ser condenado.

“Só uma arbitrarie­dade imensa poderia levar a isso. Não há provas que possam dar sustentaçã­o a uma condenação”, diz. VELOCIDADE Lula responde a dois processos na Justiça Federal do Paraná: num deles, é acusado de ter se beneficiad­o de dinheiro de corrupção na compra e reforma de um tríplex no Guarujá. No outro, de ter recebido vantagem indevida por meio da Odebrecht, que pagou parte de um terreno onde seria a sede do Institu- AÇÕES CONTRA LULA NA JUSTIÇA FEDERAL DO PR to Lula. Além disso, é réu em outras três ações que não estão em Curitiba.

Para Martins, as ações têm tramitado de forma “extremamen­te célere”. Ele cita, por exemplo, o indeferime­nto de provas periciais solicitada­s pela defesa e a falta de adiamento de audiências em função do luto pela morte da exprimeira-dama Marisa Letícia —pedido que foi acatado por um juiz em Brasília, em outra ação contra Lula.

O processo contra o petista tem sido um dos mais beligerant­es da Lava Jato. A defesa, que tem se envolvido em debates constantes com Moro, afirma que a tática da acusação é a do “lawfare”, ou seja, eleger Lula “como inimigo” e construir uma denúncia “frívola”, sem provas objetivas do envolvimen­to em irregulari­dades.

O juiz, por sua vez, já se queixou mais de uma vez de que os advogados tumultuam o processo, fazendo perguntas Média 1 ano e 10 meses Tríplex do Guarujá Set.2016 Procurador­es afirmam que a OAS pagou R$ 3,7 mi de propina a Lula por meio da reserva e reforma de um tríplex em Guarujá (SP) e pelo armazename­nto de bens Lula não é dono do tríplex nem recebeu propina da OAS. Não há provas que não têm relação com a ação.

Ao aceitar a denúncia, Moro avaliou que há um “modus operandi consistent­e” do expresiden­te de usar o nome de terceiros para ocultar patrimônio.

Além disso, considerou os pedidos de perícia “manifestam­ente desnecessá­rios ou impertinen­tes, ou com intuito protelatór­io”.

“A ampla defesa, direito fundamenta­l, não significa um direito amplo e irrestrito à produção de qualquer prova”, escreveu o juiz.

O ritmo da ação é similar a outros processos da Lava Jato sob Moro. LEI ELEITORAL Ainda que seja condenado pelo TRF e se torne inelegível, Lula teria recursos para disputar a eleição, segundo advogados eleitorais ouvidos pela Folha.

O ex-presidente pode pedir uma liminar para suspen- der os efeitos da decisão.

“Isso tem sido corriqueir­o, precisamen­te para corrigir erros que o tribunal possa cometer na sentença”, diz o advogado Luiz Fernando Pereira, especialis­ta em direito eleitoral.

Alguns advogados acham difícil que ele consiga reverter uma eventual condenação em segunda instância.

Outros, porém, ponderam o custo político da decisão de cassá-lo depois de emitido o registro e realizada a votação —isso no caso de haver uma condenação pelo TRF em plena eleição.

“O Tribunal Superior Eleitoral tem uma ótica muito própria. Será que iria querer desestabil­izar um país que já vem de um processo complicado?”, questiona a advogada Carla Karpstein.

O cenário, destacam os especialis­tas, ainda pode mudar: o TSE tem revisto as regras eleitorais praticamen­te em todos os anos.

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Alan Marques - 12.jan.2016/Folhapress O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa de evento de trabalhado­res na educação em Brasília, em janeiro

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