Folha de S.Paulo

Luz sobre a Petrobras

Nova fase da Lava Jato leva à prisão operador que atuava na estatal desde os anos 1980, ampliando o alcance potencial das investigaç­ões

-

Efeito da mais recente fase da Operação Lava Jato, a prisão preventiva do engenheiro Jorge Luz, conhecido como operador do PMDB, e de seu filho, o também lobista Bruno Luz, amplia considerav­elmente as perspectiv­as de investigaç­ão a respeito do escândalo de corrupção na Petrobras.

Aos 73 anos, Jorge Luz acumula longa experiênci­a nas negociaçõe­s de bastidores em Brasília; sua influência na estatal começou ainda nos anos 1980. Sem ir tão longe (o que seria, aliás, de grande interesse), várias delações premiadas para as autoridade­s da Lava Jato mencionam seu nome.

Luz dispunha da vaga privativa para seu carro na área reservada à diretoria da Petrobras, conta o ex-senador Delcídio Amaral. Foi o idealizado­r do apadrinham­ento político do PMDB na área de relações internacio­nais da empresa, afirma o ex-diretor Nestor Cerveró.

Nas palavras de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecime­nto da petroleira, Luz teria sido decisivo para que o PMDB assegurass­e sua permanênci­a no cargo.

A despeito de tantas referência­s ao lobista (o termo é um tanto eufemístic­o nesse caso), identifica­do como o “operador dos operadores”, um acordo seu para fins de delação premiada parece não ter interessad­o imediatame­nte aos investigad­ores da Lava Jato.

É possível que ele não tivesse informaçõe­s novas e relevantes a fornecer; nessa hipótese, resta explicar a contento por que se buscou a prisão agora, coisa que o Ministério Público, talvez pelo sigilo necessário à operação, não fez.

Até onde se pode perceber, uma eventual contribuiç­ão do operador se daria no esclarecim­ento de acusações que envolvem os senadores peemedebis­tas Renan Calheiros (AL) e Jader Barbalho (PA).

Segundo Cerveró, um contrato para a aquisição de sondas da Petrobras rendeu US$ 6 milhões aos dois senadores, que em troca patrocinar­am sua nomeação para a diretoria da empresa. Luz teria comparecid­o a uma reunião na casa de Barbalho, em 2006, para viabilizar o esquema.

Como sempre, cabe não confundir o que se afirma em delações com prova. Confirmar tantas suspeitas é tarefa que exige o levantamen­to, por exemplo, de registros documentai­s ou indícios claros de lavagem de dinheiro.

Com o benefício do foro privilegia­do, os alvos lógicos do passo seguinte nas investigaç­ões não se encontram sob o alcance direto dos responsáve­is pela Lava Jato.

Mais uma vez, recai sobre o assoberbad­o Supremo Tribunal Federal a expectativ­a de que a fase das suspeitas dê lugar, nos casos de indícios sólidos de crime, ao devido processo judicial.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil