Folha de S.Paulo

Imposto nos outros é refresco

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BRASÍLIA - Em fevereiro de 2016, parlamenta­res do PSDB encheram o Congresso de placas com a inscrição “Xô, CPMF”. Eles combatiam a ideia de recriar a Contribuiç­ão Provisória sobre Movimentaç­ões Financeira­s. Era a última cartada do governo Dilma Rousseff para tentar tapar o rombo nas contas federais.

O deputado Luiz Carlos Hauly despontava entre os críticos mais ácidos da proposta. Em entrevista à rádio Câmara, o tucano anunciou uma oposição radical ao imposto de quatro letras, que classifico­u como “inaceitáve­l” e “inadmissív­el”.

“As pesquisas estão aí: rejeição total à recriação da CPMF. Com a oposição também não há diálogo”, avisou o paranaense. “Nós somos radicalmen­te contra”, reforçou.

O deputado lançou mão de um discurso em voga na época: o contribuin­te não aguentaria mais pagar impostos ao governo. “A sociedade rejeita o aumento de impostos, e nós da oposição estamos em linha com a sociedade brasileira”, disse.

As barricadas funcionara­m, e Dilma não conseguiu recriar a CPMF. O resto é história: o país foi rebaixado pelas agências de classifica­ção de risco, a crise fiscal se agravou, as manifestaç­ões de rua engrossara­m e o Congresso derrubou o governo.

Um ano depois, Hauly e a CPMF estão de volta ao noticiário. A novidade é que o tucano mudou de discurso. Escolhido para relatar a reforma tributária, ele abandonou as críticas e se converteu num entusiasma­do defensor do imposto.

“A CPMF vai substituir o IOF”, disse o deputado na semana passada, ao sair de uma reunião no Palácio do Planalto. “A contribuiç­ão será mínima, como antigament­e. E tudo é para o bem e para fazermos com transparên­cia”, acrescento­u.

Em nome da transparên­cia, Hauly poderia explicar como uma contribuiç­ão “inaceitáve­l” no governo Dilma poderá ser recriada “para o bem” na gestão de Michel Temer. O pato da Fiesp não foi encontrado para comentar o assunto.

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