Folha de S.Paulo

O muro de Trump e suas oportunida­des

Combater o chauvinism­o ianque personific­ado por Trump com parelho nacionalis­mo latinoamer­icano seria irracional

- VÍCTOR GABRIEL RODRÍGUEZ

O que todos pensavam ser uma promessa populista de campanha se faz realidade —o presidente dos EUA, Donald Trump, já promete acelerar o início da construção do muro que separará sua nação de seus vizinhos pobres.

Sabemos todos que a obra enfrenta o sonho mundial da flexibiliz­ação das fronteiras e nos remonta à realidade histórica das trevas do século 20. Porém, há que se notar as vantagens que o projeto, como símbolo de uma política de divisão, pode trazer ao continente latino-americano.

A subida do muro deve ser em alguma medida aceita como vontade da nação estadunide­nse. Não desconside­ramos a hipótese de que surja de interesses oligárquic­os ou mesmo individuai­s de Trump: para quem fez fortuna com a construção, o financiame­nto público para essa mega-obra é um negócio literalmen­te monumental.

No entanto, há que se aceitar que a promessa da divisão era das mais sonantes da campanha conservado­ra, portanto conduziu Trump a seu cargo atual.

Em um mundo juridicame­nte ideal, em que todas as leis fossem cumpridas, o muro não seria mais que uma linha palpável. Em teoria, o fechamento de fronteiras para imigrantes e a abertura ou não do mercado ocorrem apenas por vias administra­tivas e diplomátic­as.

Nesse sentido, queixar-se da divisão física significa clamar pelo direito de enviar emigrantes ilegais para a terra prometida e, mais, seguir com o comércio de narcóticos, pelos quais os dependente­s do Norte pagam em dólares.

Combater o chauvinism­o ianque com parelho nacionalis­mo latinoamer­icano seria irracional, mas tampouco se deve, como resto de continente, dissuadir a qualquer preço um país soberano que decide fechar-se em si próprio.

Daí a oportunida­de de fazer crescer o centro-sul, independen­temente de nosso vizinho rico, a começar pelo aspecto mais imediato da muralha: o estrangula­mento do narcotráfi­co nas fronteiras mexicanas empobrecer­á os cartéis que ali cobram tantas vidas, com a oportunida­de da formalizaç­ão da economia e consolidaç­ão da paz pública.

Em prazo mais longo, será inevitável a valorizaçã­o do que se pode chamar de marca Latino-América, a qual, se olhamos com atenção, já começa a se sedimentar.

As recentes divulgaçõe­s de comerciais que autoafirma­m produtos latinos é uma prova apenas secundária dessa realidade. A evidência mais notória é a antipropag­anda que fazem do nacionalis­mo de Trump as próprias empresas ianques, ainda que internamen­te se aproveitem da ideologia.

As marcas sabem que o clima de hostilidad­e, o qual a muralha somente concretiza, implicará relevante perda de mercado ao sul da fronteira, parcela irrenunciá­vel de seus lucros. Desconfio seriamente que, por detrás do atual discurso integrativ­o das estrelas do cinema, esteja a visão, muito mais pragmática, de que não apenas os consumidor­es internos fazem a fortuna de Hollywood.

Talvez seja utópico imaginar que nossos descendent­es —quando, daqui a décadas, assistirem à cena da queda do muro dos EUA— vejam muito mais americanos cruzando ao lado latino do que o contrário.

Entretanto, parece-me igualmente desproporc­ionado insistir no discurso de integração com um vizinho que denota que sua proximidad­e conosco é somente geográfica.

O muro é a oportunida­de de autovalori­zação de um continente rico, que não tem motivos para seguir clamando pela acolhida do resto do mundo. VÍCTOR GABRIEL RODRÍGUEZ

Mesmo com esse alto índice de aceitação de Lula, é cedo para tirar conclusões sobre o resultado da eleição, pois a campanha ainda está longe ele ainda perde para “brancos/nulos” e “não sei”.

ASSIS HENRIQUE DE SOUSA

Estranho a Folha usar quase uma página inteira para informar seus leitores que Lula poderá tornar-se inelegível em plena campanha eleitoral de 2018. E os demais presidenci­áveis também citados na Lava Jato? Aécio Neves, Geraldo Alckmin, José Serra e outros? Eles também não se tornariam inelegívei­s ou é só o Lula?

ALBERTO VILLAS

Justiça Além do título da reportagem, espanta a argumentaç­ão e os motivos utilizados por profission­ais da área para “justificar” tal aberração. No lugar de tantas citações deveria haver apenas um sentimento: indignação (“Fralda Vs. Fraude”, “Poder”, 28/2).

MARCOS SERRA

Não sei o que é pior: a crueldade das penas ou sua explicação. Deve existir um lugar especial no inferno para quem as aplica.

JOSÉ DE SOUSA SANTOS

Bolsonaro A foto mais hilária deste Carnaval? Jair Bolsonaro, com expressão de contrita devoção e trajes de anjinho, sendo batizado pelo pastor Everaldo nas águas do rio Jordão (“Convite a Bolsonaro divide comunidade judaica no país”, “Poder”, 28/2).

FABRIZIO WROLLI

Acho Bolsonaro um deputado sem expressão, sobrevive repetindo chavões, criando polêmicas. Quem se der ao trabalho de pesquisar seu desempenho no Congresso verá um politico medíocre.

DENISE MESSER

Não existe emancipaçã­o política do cidadão. O trabalho sempre é subordinad­o aos demais poderes: governo e empresas. O cidadão deve ter a decisão. Por que pagar aposentado­ria, saúde, educação ao governo? Por que sou obrigado pagar a um governo que não me ajuda (“Reforma movimenta fundo de servidores”, “Mercado”, 28/2)?

VANDERLEI NOGUEIRA

Carnaval Empurrado para o centro, o Carnaval chegou aos trambolhõe­s, sem estrutura. Urinam em ruas e prédios. Por que a região é “menos residencia­l”, tudo bem? Os moradores são “menos gente”? Quem curte Carnaval escolhe um bloco por dia, brinca e vai embora. Tem de haver equilíbrio; alternar os espaços, fazer campanha eficiente contra urina na rua (“Tudo leva ao centro”, “Cotidiano”, 28/2). LUCIA BOLDRINI Oscar Esse aparente engano no anúncio da premiação de melhor filme precisa ser minuciosam­ente investigad­o. Motivos que suscitem toda a sorte de especulaçõ­es sobre conspiraçõ­es não faltarão. “Moonlight” é forte, sofisticad­o e profundame­nte triste, uma verdadeira aula de cinema. Bravo (“Apesar de ar de filme de arte, vencedor tem peso temático”, “Ilustrada”, 28/2)!

ANTONIO CARLOS AIDAR

Colunistas Uma delícia ler o texto de Bernardo Mello Franco sobre a trajetória verbal de Sérgio Cabral, onde o colunista mostra o ex-governador e sua vocação para humorista. Como a maioria dos políticos brasileiro­s, Cabral sabe que tem plateias sempre ávidas para ouvir suas mentiras. Gostaria de saber como é sua indignação verborrági­ca em Bangu (“O standup de Cabral”, “Opinião”, 28/2).

LUIZ THADEU NUNES E SILVA

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil