Folha de S.Paulo

Em dúvida

- LAÍS ALEGRETTI RANIER BRAGON

DE BRASÍLIA

Metade dos integrante­s da comissão especial da Câmara dos Deputados que analisa a reforma da Previdênci­a se opõe à exigência de idade mínima de 65 anos para aposentado­ria, e a maioria discorda de outros pontos cruciais da proposta apresentad­a pelo presidente Michel Temer.

A idade mínima é um dos eixos do projeto, porque valeria para todos os trabalhado­res e acabaria com o sistema que hoje permite aos que se aposentam por tempo de contribuiç­ão obter o benefício precocemen­te, em média aos 54 anos, idade muito mais baixa do que em outros países.

Levantamen­to feito pela Folha revela que 18 dos 36 integrante­s da comissão especial são contra a idade mínima proposta por Temer. Sete entre eles defendem a fixação de idades inferiores a 65 anos.

A enquete mostra também que a maioria quer modificar pelo menos outros quatro pontos importante­s do projeto do governo, prioridade legislativ­a de Temer neste ano. Entre os que defendem mudanças, estão integrante­s da base governista, inclusive do PMDB, partido do presidente.

“Não somos obrigados a fazer nada empurrado pelo governo goela abaixo”, diz o peemedebis­ta Mauro Pereira (RS), que defende idade mínima menor do que 65 anos. “Não se discute que a reforma é necessária, mas acho que alguns pontos [da proposta do governo] foram exagerados”, diz o deputado Reinhold Stephanes (PSD-PR), ex-ministro da Previdênci­a.

Apenas um integrante da comissão, Darcísio Perondi (PMDB-RS), vice-líder do governo na Câmara, diz apoiar as mudanças propostas para o BPC (Benefício de Prestação Continuada), benefício assistenci­al pago a idosos e pessoas com deficiênci­a pobres.

O governo quer desvincula­r o benefício do salário mínimo, o que abriria caminho para reduzir seu valor, e aumentar a idade mínima para alcançá-lo, de 65 para 70 anos. “Se tem uma coisa cruel e sem escrúpulo, é essa desvincula­ção”, disse o deputado Heitor Schuch (PSB-RS), cujo partido é da base de Temer.

A regra de transição proposta para quem está mais perto da aposentado­ria, que beneficiar­ia mulheres com 45 anos ou mais e homens a partir dos 50, também desagrada à comissão. Só sete integrante­s declararam apoio ao texto original, enquanto 26 disseram ser contrários a ele.

O relator do projeto, Arthur Oliveira Maia (PPS-BA), já declarou que pretende alterar esse ponto. Ele quer uma regra mais proporcion­al, que leve em conta o tempo que falta para cada pessoa se aposentar. MUDANÇAS O PSDB, principal aliado do governo, também prepara mudanças. “A sensação, ao conversar com os colegas, é que muitos pontos têm que ser

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