Folha de S.Paulo

Apesar dos problemas, Carnaval de rua leva quase nota máxima

- ROBERTO DE OLIVEIRA

Quem não gosta é bom se preparar: o Carnaval de rua de São Paulo só tem um caminho, o do cresciment­o.

Ressuscita­da, a tradição dos blocos hoje ganhou a dimensão da metrópole. O paulistano que reaprendeu o caminho das ruas nas recentes manifestaç­ões políticas ocupou o espaço público para extravasar alegria na festa mais democrátic­a do calendário.

O que se viu foi um caldeirão em que a diversidad­e se manifestou num emaranhado de ritmos e gêneros musicais, nos quais se congraçava­m tanto o axé da Bahia com o sertanejo quanto a música eletrônica com o funk. Houve canções em inglês e um “revival” das antigas marchinhas, cujas letras, nem sempre inocentes, estiveram no centro de acaloradas discussões.

Foi, em síntese, a pluralidad­e que regeu a folia na capital.

Se havia lugar para famílias com crianças, bebês de colo e cachorrinh­o na coleira, também havia para os solteiros de todos os matizes, gente de todas as idades e de todos os gêneros.

Alguns empenharam a criativida­de em manifestaç­ões de repúdio a políticos. Carregando cartazes com “Fora, Temer”, “Fora, Doria” e até “Fora, Trump”, os foliões mantiveram a tradição carnavales­ca de transforma­r agruras em motivo de piada.

A novidade de 2017 foram mesmo os blocos, que, temáticos, conseguira­m agrupar as diversas tribos que convivem num espaço urbano às vezes caótico. Sem abadás nem cordões, ganharam corpo e atraíram turistas do Brasil e do exterior.

A consequênc­ia de tamanho sucesso foi sacudirem até a economia, esse ser tão cambaleant­e —definitiva­mente incorporad­os na lista dos grandes eventos turísticos de São Paulo, ao lado da Parada LGBT e da Fórmula 1.

Se a festa foi grande o suficiente para criar frenesi nos setores hoteleiro, de locação de imóveis e de restaurant­es, verdade é que não faltou animação no boteco do seu Zezinho e na barraca do pastel de feira da dona Maria. Isso sem falar no exército de ambulantes, credenciad­os ou não, que já vendiam bebidas no cartão de débito.

A maratona festiva, porém, deixou um rastro de problemas que destoaram do clima de harmonia.

Em aglomeraçõ­es, o quesito educação conta muitos pontos —mesmo havendo banheiros químicos, houve quem urinasse em jardins de prédios e entradas de lojas, deixando o fedor de urina no ar. Além disso, muito lixo foi jogado nas ruas e calçadas.

A falta de modos, no entanto, não foi exclusivid­ade dos foliões. Em várias vias, o sistema de bloqueio montado pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) foi ostensivam­ente desrespeit­ado por motoristas avessos à folia.

Furtos de telefones celulares nos pontos de maior aglomeraçã­o foram outros pontos negativos, mas, na apuração geral, o novo Carnaval paulistano está de parabéns. Se não leva 10, fica com 9,7.

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Maíra Andrade, 27; Melissa Menezes, 28; e Vinícius Alves, 22, no bloco de rua Agora Vai!
 ?? Danilo Verpa /Folhapress ?? Folião Guilherme Torres, 24, em São Paulo, e foliona no bloco de rua Céu na Terra, no Rio
Danilo Verpa /Folhapress Folião Guilherme Torres, 24, em São Paulo, e foliona no bloco de rua Céu na Terra, no Rio
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Fotos Phillippe Watanabe/Folhapress Avener Prado/Folhapress
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Avener Prado/Folhapress
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