Que todos os dias pedala por ali para chegar em casa.
O gari José de Andrade, 56, tem uma ciclovia à disposição para ir de seu trabalho, no Butantã, até sua casa, no Rio Pequeno, zona oeste de São Paulo. Por medo de assaltos, no entanto, ele abandona a ciclovia e prefere pedalar junto aos automóveis da av. Escola Politécnica, nas imediações da USP.
“Vou no meio dos carros porque me sinto mais seguro. A ciclovia é escura, vazia.”
Na capital paulista, houve um aumento de 37% nos roubos —quando há ameaça— de bicicleta em 2016. Foram 439 casos, contra 320 em 2015.
Os números não incluem furtos, quando a bicicleta é retirada do dono sem uso de violência. E, na prática, tendem a ser maiores, já que há muitas vítimas que não registram boletim de ocorrência.
Dados da Secretaria da Segurança Pública de SP, obtidos pela Folha por meio da Lei de Acesso à Informação, apontam que, em 2016, a av. Sumaré, na zona oeste, liderou a quantidade de registros.
O histórico dos últimos anos, porém, aponta maior concentração de roubos na avenida Escola Politécnica —campeã disparada na soma de roubos de bicicleta de 2013 para cá, com 45 ocorrências, seguida por marginal Pinheiros e av. Prof. Fonseca Rodrigues, com 16 casos cada.
Em 2016, a Politécnica foi a segunda com mais roubos de bicicleta —empatada com a rua Arlindo Bettio, acesso ao campus leste da USP. EXPANSÃO A cidade registrou 1.438 roubos de bicicletas desde 2013, ano a partir do qual houve expansão das ciclovias pela gestão Fernando Haddad (PT) —foram implantados mais de 400 km de faixas.
No último dia 17, sexta-feira, o analista de informática Maurício Bezzuoli, 37, foi uma das vítimas, na av. Sumaré.
Por volta das 23h, ele pedalava na ciclovia quando um grupo de dez homens fechou a passagem. Ele teve de entregar a bicicleta dobrável LOCAIS COM MAIS ROUBOS Av. Sumaré R. Arlindo Bettio Av. Escola Politécnica Av. Prof. Fonseca Rodrigues R. Luís Góis Av. Guido Caloi Av. Escola Politécnica Marginal Pinheiros Av. Prof. Fonseca Rodrigues que havia comprado duas semanas antes, por R$ 1.300.
“Eu tinha começado a pedalar recentemente, mas agora, com o roubo, me sinto bastante desmotivado a voltar”, afirma Maurício.
A ciclovia da Sumaré tem vários pontos perigosos. Até existe iluminação, mas as árvores da rua acabam tapando as lâmpadas, deixando trechos às escuras. A falta de policiamento também é um dos principais problemas relatados por ciclistas.
A reportagem encontrou um cenário parecido na ciclovia da Politécnica, nas imediações do campus da USP: além de falta de policiamento, havia vários pontos com lâmpadas quebradas.
“Raramente vejo policial aqui”, afirmou o gerente de TI Luis Afonso Perez, 34,
DANIEL GUTH
da Ciclocidade 2013 2014 2015 Em 2016 2016
10 9 9 8 8 8 Entre 2013 e 2016 45 Av. Sumaré 10 roubos Av. Prof. Fonseca Rodrigues (próximo ao parque Vila Lobos) PERIFERIA O crescimento dos roubos de bicicleta em 2016, de 37%, foi muito maior do que a alta dos outros roubos em geral na capital paulista —de 3%.
O mapa de onde ocorrem esses crimes inclui diversas ruas e avenidas de fora do centro expandido.
O militante da Ciclocidade (Associação de Ciclistas Urbanos de São Paulo) Daniel Guth avalia que isso mostra que os roubos não estão concentrados em regiões de alta renda, mas atingem toda a população, sobretudo em áreas periféricas, onde a bicicleta é mais disseminada.
Guth lembra ainda que esse tipo de crime é subnotificado. “A bicicleta é um bem que a pessoa tem por anos e circula por diferentes mãos. O comércio de usados é muito expressivo. Muitas dessas pessoas não têm documentos como nota fiscal, o que dificulta o registro do roubo.”
Desde setembro, a Ciclocidade trabalha em parceria com a Secretaria da Segurança Pública de SP para melhorar a coleta e análise de dados desse tipo de crime, de modo a facilitar investigações.
A secretaria criou um serviço on-line em que o público pode consultar chassis de bicicletas para saber se há ou não registro de roubo daquele veículo. Há empresas com serviços similares, como Bike Registrada.
“é um bem que a pessoa tem por anos e circula por diferentes mãos. O comércio de usados é muito expressivo. Muitas dessas pessoas não têm documentos como nota fiscal, o que dificulta o registro do roubo