Folha de S.Paulo

Após anúncio, turismo espacial ganha fôlego

SpaceX, de Elon Musk, quer fazer voo em torno da Lua até o final de 2018; passagem pode custar US$ 90 milhões

- SALVADOR NOGUEIRA

Previsões de Musk geralmente são demasiadam­ente otimistas, mas, geralmente acontecem FOLHA

O surpreende­nte anúncio da empresa SpaceX de que realizará um voo tripulado e privado até a Lua expandiu o alcance do turismo espacial. Mas não mudou —ainda— o fato de que é algo para poucos e bilionário­s clientes.

Até hoje, o número total de turistas espaciais podem ser contados nos dedos da mão: sete. Em todos os casos, eles pagaram entre US$ 20 milhões e US$ 40 milhões por uma carona numa nave russa Soyuz e uma estadia de cerca de dez dias a bordo da Estação Espacial Internacio­nal.

O primeiro foi o americano Dennis Tito, em 2001. Mas desde 2009 ninguém mais que não seja astronauta profission­al foi ao espaço. Em 2015, a cantora britânica Sarah Brightman fechou contrato para ir à ISS, mas acabou desistindo meses depois.

Com a possibilid­ade de um voo lunar, certamente os magnatas com aspirações espaciais devem se sentir mais encorajado­s em abrir o bolso.

Com efeito, a SpaceX anunciou que tem múltiplos potenciais clientes interessad­os num voo do tipo. O nomes não foram anunciados (pendem por testes físicos e de saúde antes de iniciar o treinament­o para a missão), assim como o preço das passagens.

Ainda assim, no anúncio na iniciativa, Elon Musk, dono e projetista-chefe da SpaceX, deu uma pista, ao dizer que espera realizar pelo menos um desses voos por ano e aumentar o faturament­o da companhia em cerca de 10%.

Em 2016, a SpaceX faturou US$ 1,8 bilhão. Supõe-se que o voo lunar vá custar a cada um dos dois tripulante­s-turistas cerca de US$ 90 milhões.

Ir à Lua, ainda que só de passagem, como no caso do perfil de voo anunciado pela SpaceX, não é um feito trivial. Tanto que ninguém esteve por aquelas bandas desde que a Apollo 17 partiu do solo lunar, em 1972.

Após muito ensaiar, finalmente a Nasa também tem uma missão do tipo em andamento. Seu foguete SLS, com a cápsula Orion, deveriam fazer missão similar à da SpaceX, com astronauta­s, em 2021. Mas a um custo de desenvolvi­mento de US$ 30 bilhões — muito mais do que a empresa de Musk gastou para desenvolve­r seu foguete Falcon Heavy e a cápsula Dragon.

Essa última, por sinal, foi também bancada pela Nasa, no programa de envio comercial de astronauta­s à ISS, que deve ter seu primeiro voo tripulado no ano que vem. Mas a um custo de US$ 2,6 bilhões. DERRUBANDO PREÇOS Mesmo com toda ousadia do mundo, a indústria do turismo espacial tende a morrer se não atingir um objetivo essencial: redução de custos.

As principais companhias a desenvolve­r o setor sabem disso. Daí um esforço inicial de oferecer voos suborbitai­s —a nave sobe ao espaço e desce em seguida, num trajeto parabólico.

Trata-se de um perfil de voo bem mais simples, que poderia dar a milhares de pessoas o gostinho de ir ao espaço pelo preço de um carro de luxo —US$ 250 mil. Estão nessa as empresas Virgin Galactic, de Richard Branson (dono do conglomera­do Virgin), e a Blue Origin, de Jezz Bezos (dono da Amazon).

Contudo, o mercado se desenvolve­u mais lentamente do que o previsto. Fundada em 2004, a Virgin esperava iniciar voos comerciais em 2009. Estamos em 2017, e nada. Para piorar, um acidente ocasionou a perda de uma nave e a morte de um piloto, em 2014, colocando em xeque a viabilidad­e do negócio.

A Blue Origin entrou no jogo mais tarde, mas pode chegar em primeiro lugar. Seu foguete já realizou seis voos, todos sem tripulação, mas espera iniciar teste com pilotos neste ano. Voos comerciais, a partir do próximo.

A chave para o sucesso, em todos esses casos, é a capacidade de recuperar e reutilizar os foguetes após o uso. Caso essas iniciativa­s sejam bem-sucedidas, pode-se esperar uma significat­iva redução nos preços.

Projetando para o futuro, Elon Musk apresentou no ano passado o que seria o objetivo maior da SpaceX: promover a colonizaçã­o de Marte. E disse quanto uma passagem para o planeta vermelho teria de custar para viabilizar o plano. De início, US$ 200 mil.

Compare com os US$ 90 milhões para dar uma voltinha ao redor da Lua em 2018 e entenda a distância entre onde o turismo espacial está e o que ele ambiciona chegar. Em quanto tempo? Musk sugere uma década ou duas.

Aí tem o copo meio cheio e o meio vazio. O dono da SpaceX (e da Tesla) sempre faz previsões excessivam­ente otimistas de quando seus projetos vão decolar. Por outro lado, tudo que ele se propôs a fazer até agora acabou acontecend­o. Se a escrita será mantida ou não, só o tempo dirá.

 ?? SpaceX/Divulgação ?? Concepção artística mostra meta ambiciosa da SpaceX —colonizar Marte; uma passagem para o planeta custaria US$ 200 mil
SpaceX/Divulgação Concepção artística mostra meta ambiciosa da SpaceX —colonizar Marte; uma passagem para o planeta custaria US$ 200 mil

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