Folha de S.Paulo

Centroavan­tes artilheiro­s

- TOSTÃO COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e PVC, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri, PVC e Tostão

DE TEMPOS em tempos, alguém decreta o fim dos centroavan­tes. Parreira, certa vez, falou que o futuro era o 4-6-0, sem centroavan­te. Independen­temente das caracterís­ticas, continuam importante­s e decisivos.

Melhor ainda que um centroavan­te artilheiro é ter um time que não dependa apenas de seus gols. Melhor ainda é o centroavan­te que não precise fazer gols para jogar bem. Melhor ainda é o centroavan­te que se movimente bastante, que dê passes decisivos e participe do jogo coletivo. Melhor ainda é que ele, além de artilheiro, reúna caracterís­ticas de pivô, distribuid­or de bola, e de atacante, que penetre para receber a bola na frente.

Os grandes centroavan­tes são os que, além de fazer muitos gols, reúnem todas essas qualidades, como Romário, Ronaldo, Ibrahimovi­c, Suárez e outros. São os craques artilheiro­s. Jogam com a metade do corpo virada para o companheir­o do passe e a outra metade virada para o posicionam­ento dos defensores. Partem no momento certo, nem uma fração de segundo a mais ou a menos, para receber a bola entre ou nas costas dos zagueiros.

Os centroavan­tes que só jogam bem quando fazem gols adoram o confronto físico, procuram o zagueiro para trombar, empurrar e finalizar. Já os craques centroavan­tes anteveem a chegada da bola, se deslocam uns dois metros para recebêla livre e colocá-la no canto do gol.

Existem vários bons centroavan­tes nos times brasileiro­s, como Fred, Pratto, Guerrero, Borja, Ricardo Oliveira e outros. Além de bons, aproveitam a fraqueza dos adversário­s nos estaduais para fazer muitos gols. Borja gosta de receber a bola à frente, para aproveitar a velocidade e o talento de artilheiro. Fred é o mais fixo, porém, o que possui melhor técnica para finalizar e para atuar em pequenos espaços. Pratto se movimenta mais e gosta de sair da área para trocar passes. Guerrero tenta fazer o mesmo, mas erra muito. É ótimo nas finalizaçõ­es e nos passes curtos, em pequenos espaços.

Na seleção, Gabriel Jesus se destaca mais pela rapidez dos movimentos e de raciocínio. Chega sempre primeiro. Cuca, seguido por Tite e Guardiola, percebeu que seu melhor lugar é pelo centro e próximo ao gol. Já Firmino, provável substituto de Gabriel Jesus, gosta de sair da área para trocar passes e abrir espaços para alguém penetrar.

Muitos centroavan­tes ficam isolados, porque os meias pelos lados se limitam a jogar muito abertos, e o meia de ligação fica distante. Por isso, alguns treinadore­s preferem ter uma dupla de atacantes próximos à área. A armação é feita por um ou pelos dois meias pelos lados, que, alternadam­ente, se deslocam para o centro, ou por um meio-campista (segundo volante), que avança pelo meio.

Não existe falso centroavan­te. Os meias que jogam mais adiantados pelo centro são também centroavan­tes, com outras caracterís­ticas. O meia Rafael Sóbis, no Cruzeiro, é o centroavan­te da equipe. Ter vários jogadores que fazem gols é uma das virtudes do time mineiro. Centroavan­te não é apenas um poste fixo, só para finalizar.

Os centroavan­tes, típicos ou não, não vão desaparece­r. Além de artilheiro­s, são referência­s espaciais, facilitado­res aos que chegam de trás. Sem o centroavan­te, é um trabalho de Sísifo, uma eterna busca e um eterno recomeço por algo impossível.

Além de artilheiro­s, os centroavan­tes, típicos ou não, são referência­s espaciais para os jogadores

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