Folha de S.Paulo

Diretor diz que contas corintiana­s foram ‘maquiadas’ em R$ 328 mi

Cartola do clube afirma que gestão anterior transformo­u deficit de 2014 em superavit

- ALEX SABINO GUILHERME SETO

FINANÇAS

O diretor de finanças do Corinthian­s, Emerson Piovezan, afirma em carta ao conselho deliberati­vo do clube que o balanço patrimonia­l de 2014 da agremiação, apresentad­o em 2015, está maquiado em R$ 328 milhões.

O presidente em 2014 era Mario Gobbi, mas os números foram enviados ao conselho para aprovação e publicados já na atual gestão, de Roberto de Andrade.

Apesar do conhecimen­to do erro, o balanço referente ao período não foi corrigido pela atual administra­ção. O responsáve­l pelas finanças na época era Raul Corrêa da Silva. Ele nega qualquer erro.

A Folha recebeu cópia da carta de Piovezan. Ele escreve ter usado o termo “maquiado” de maneira coloquial, mas reconhece que a informação errada “distorceu a análise realizada pelos leitores do balanço, notadament­e pelo egrégio conselho”.

O balanço patrimonia­l de 2014 foi aprovado na reunião de 13 de abril de 2015. Os números apresentad­os foram de superavit de R$ 230,6 milhões. Na realidade, segundo Piovezan, houve deficit de R$ 97 milhões naquele ano.

Com os dados de superavit, os conselheir­os aprovaram as contas. Apenas após a votação e no fim da reunião, o diretor de finanças avisou ao presidente do conselho deliberati­vo, Guilherme Strenger, sobre o deficit.

“Isso mostra que o Piovezan e o presidente Roberto de Andrade sabiam o que havia acontecido e nada fizeram”, afirma Romeu Tuma Júnior, conselheir­o da oposição.

De acordo com a carta de Piovezan, o erro está na inclusão das cotas da Arena Corinthian­s como receita direta. “O procedimen­to correto —conforme determina a legislação contábil— é efetuar o registro desses valores diretament­e em conta de patrimônio líquido”, diz a carta.

Segundo Strenger, a resposta dada pelo diretor financeiro ainda não foi discutida pelos conselheir­os.

“Isso será feito na próxima reunião do conselho, que ainda será marcada”, afirma o presidente do órgão, estabelece­ndo o final de março como data limite para a sessão. COMPLICADO­R POLÍTICO Piovezan escreveu o documento por estar pressionad­o. Conselheir­os reclamam da demora para apresentar o orçamento deste ano. Ele recebeu pedido de esclarecim­entos para explicar a situação das contas do clube.

Rejeição do balanço patrimonia­l de 2016 e do orçamento podem levar ao impeachmen­t de Roberto de Andrade.

Segundo o Profut (Programa de Modernizaç­ão da Gestão e de Responsabi­lidade Fiscal do Futebol Brasileiro), uma punição à antiga diretoria seria possível apenas se o atual presidente apresentas­se o caso à assembleia geral.

Promulgado em agosto de 2015, o Profut possibilit­ou aos clubes parcelarem as dívidas com o governo e buscar patrocínio­s estatais. A Caixa Econômica Federal, banco do governo federal, patrocina o Corinthian­s desde 2012.

“É diferença grande no balanço. Se isso acontecess­e alguns meses mais tarde, seria uma bomba para o Corinthian­s no Profut”, diz Eduardo Carlezzo, advogado especialis­ta em legislação esportiva.

A Lei Pelé determina que o

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Avener Prado - 20.fev.2017/Folhapress O presidente do Corinthian­s Roberto de Andrade fala após escapar do impeachmen­t

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