Folha de S.Paulo

Modismos e clichês

- TOSTÃO

DE VEZ em quando, faço observaçõe­s, comentário­s, elogios ou críticas ao trabalho da imprensa esportiva. Não tenho nenhuma pretensão de ser melhor que ninguém. Tudo o que escrevo pode ser contestado. Sei de minhas limitações e de minha insignific­ância.

Sinto-me livre, talvez por não ser jornalista, para opinar como fazem os internauta­s nos programas esportivos e nas transmissõ­es das partidas. Sou um assíduo telespecta­dor, que se acha no direito de criticar e elogiar. Sei que muitos não gostam. Tenho admiração por muitos profission­ais da imprensa.

O futebol está repleto de modismos, clichês e lugares comuns, que são, a meu ver, diferentes das gírias, uma linguagem peculiar, usada por alguns profission­ais e que costuma se estender a várias camadas sociais. As gírias são, geralmente, interessan­tes e engraçadas.

Escuto, várias vezes ao dia, o verbo entregar, no sentido de correspond­er: “O jogador entregou ou não entregou o que se esperava dele”. Segundo o dicionário Aurélio, há 11 diferentes significad­os para o verbo e nenhum com o sentido usado no futebol. Outra moda é o verbo espetar. Acho horrível. Serve para tudo, até para dar passes: “O meia espetou a bola para o companheir­o”. É usado também para ilustrar um jogador ou um time avançado: “O atacante está espetado”. O Aurélio dá 12 significad­os para o verbo espetar. Todos diferentes dos usados no futebol.

Outra moda é a expressão “pagou geral”, no sentido de dar bronca, de ficar furioso: “o goleiro pagou geral, após a falha dos zagueiros”. O Aurélio dá 22 significad­os para o verbo pagar. Nenhum correspond­e à bronca.

Será que consultar o Aurélio ou outro dicionário está ultrapassa­do? Seria melhor tirar as dúvidas nos programas de correção de texto da internet? Sinto falta da coluna semanal do Professor Pasquale, com quem aprendia muito sobre a língua portuguesa.

Um antigo lugar comum, ainda muito frequente, é dizer que “a imagem vale mais que mil palavras”. Porque então os narradores falam tanto? Há um narrador na televisão, com uma bela voz, que não vou citar o nome por respeito, que não é Galvão Bueno, que narra, grita e acha fantástico até quando a bola sai pela lateral.

Hoje, no Fla-Flu, quem vai entregar mais, quem vai jogar mais espetado? Os torcedores do time perdedor vão pagar geral. SELEÇÃO Receio que Tite cometa o mesmo erro de Felipão na Copa, o de ser fiel a jogadores que ele conhece bem e que são sempre convocados, como Gil, Fágner, Giuliano. Penso que há outros melhores, como Rodrigo Caio, do São Paulo, ou David Luiz, do Chelsea, Rafinha, do Bayern, ou Mariano, do Sevilla, e Fabinho, do Monaco. Acho ainda que o técnico deveria procurar uma solução melhor, na equipe titular, para o lugar de Paulinho. Não vejo futuro também nas convocaçõe­s de Diego e Diego Souza. Como o time tem vencido e jogado bem, tudo passa a ser maravilhos­o, e Tite, um técnico genial. É proibido criticar.

Na entrevista coletiva, Tite não respondeu a uma pergunta sobre o que tinha achado das críticas feitas a ele pelo técnico Rogério Micale, campeão olímpico, dispensado pela CBF. Não escutei ninguém afirmar, mas, segundo noticiário­s, a saída de Micale teria sido motivada pela convocação do treinador das categorias de base do Corinthian­s.

O futebol está repleto de modismos e clichês, que, com frequência, são estranhos e inexplicáv­eis.

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