Folha de S.Paulo

O Congresso governa

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SÃO PAULO - A ansiedade que antecede a divulgação da nova lista de investigad­os ilustres do procurador Janot agita a República. A torcida ao redor dos defenestra­dos pelo impeachmen­t aproveita a oportunida­de e amplia o coro “Fora, Temer”.

Os profission­ais da política, contudo, já entenderam a natureza do jogo. A Lava Jato tem baixa probabilid­ade de dissolver, até o pleito de outubro do ano que vem, o amálgama deste governo de transição.

O foro privilegia­do garante uma longa sobrevida aos implicados. Em março de 2015, a primeira lista de Janot foi divulgada pelo Supremo com dezenas de investigad­os. Dois anos depois, nada de notável aconteceu na corte, a não ser a abertura de processo contra Eduardo Cunha.

Apenas uma feitiçaria do STF, difícil de acontecer, poderia remeter muitos desses inquéritos para a primeira instância federal, que tem se mostrado mais célere.

Resta o julgamento das contas da chapa Dilma-Temer pelo tribu- nal eleitoral. Prazos regimentai­s, nomeações de novos juízes pelo presidente da República e o leque de recursos da defesa, que pode fazer o caso chegar até o Supremo, alongam no horizonte a definição desse litígio.

A solução da Carta na hipótese de cassação de Temer, um pleito indireto para mandato tampão, torna-se tanto mais insólita quanto mais se aproxima a eleição direta regular. Os juízes levarão isso em conta ao decidir o processo eleitoral.

A tecnologia para lidar com impactos políticos da Lava Jato está desenvolvi­da. O Congresso e sua maioria de centro-direita governam através de Temer. Um ministro que cai é logo trocado por outro indicado pelo Legislativ­o. Se a geringonça funcionar, o vencedor em 18 não precisará adotar medidas tão duras na economia.

Por isso presidenci­áveis profission­ais, como Lula, não contam com a queda de Temer. Tampouco desgostam de que ele carregue o peso das reformas ingratas. vinicius.mota@grupofolha.com.br

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