Folha de S.Paulo

Tempos de mudança

Quem resistiu ao regime autoritári­o sabe a diferença entre um golpe e a falácia que qualifica de “golpista” um governo constituci­onal

- ROBERTO FREIRE

Em qualquer setor de atividade, um processo de mudança pode gerar reações da velha ordem estabeleci­da. O desconfort­o em relação ao novo é próprio do ser humano e, em certos momentos, expressase de forma virulenta.

Aqueles que, como eu, estão há muito tempo na vida pública têm de lidar frequentem­ente com o comportame­nto agressivo e exacerbado de alguns. De todo modo, é mais saudável e democrátic­o preservar um diálogo civilizado, respeitoso e intelectua­lmente honesto com o interlocut­or —especialme­nte quando dele se diverge no campo político.

Há mais de 40 anos participan­do da vida política brasileira, sempre me mantive na trincheira democrátic­a. Lutei contra a ditadura militar, em defesa da liberdade de expressão, de organizaçã­o e dos direitos civis e políticos.

Em uma época em que vivíamos tempos verdadeira­mente sombrios, defender a democracia significav­a colocar a liberdade e a própria vida em risco. Todos aqueles que resistiram ao regime autoritári­o sabem perfeitame­nte a diferença entre um golpe, como o de 1964, e a narrativa falaciosa que qualifica como “golpista” um governo constituci­onal e democrátic­o fruto de um processo de impeachmen­t.

Temos acompanhad­o protestos esporádico­s de setores ligados ao meio cultural denunciand­o um suposto “golpe” parlamenta­r, midiático e jurídico, entre outros devaneios. É evidente que, por mais descabido que seja tal posicionam­ento, ele demonstra o pleno direito à livre manifestaç­ão que deve ser respeitado por todos nós.

No bojo dessas críticas, está evidenciad­a uma posição refratária à mudança política no país. Em geral, são ataques desprovido­s de qualquer sentido, como acusações de que o atual governo pretende retirar direitos ou anular algumas das importante­s conquistas da sociedade brasileira das últimas décadas.

Nada disso ocorrerá. Na realidade, o que não haverá é um recuo nas mudanças levadas a cabo pelo Ministério da Cultura e pela administra­ção federal. Ao contrário: continuare­mos avançando em políticas que buscam recolocar o Brasil nos trilhos após os desmandos praticados pela gestão anterior.

Reiteramos a importânci­a da Lei Rouanet, alvo de desconfian­ça de grande parte dos brasileiro­s em decorrênci­a do desmantelo moral e das ilegalidad­es dos últimos 13 anos.

Faremos as modificaçõ­es necessária­s por meio de uma instrução normativa, ampliando os mecanismos de controle e fiscalizaç­ão, fixando tetos para os projetos culturais e definindo critérios para a tramitação e análise do incentivo fiscal, o que proporcion­ará maior transparên­cia.

Incentivar­emos a descentral­ização regional, democratiz­ando o acesso da população de todos os rincões do Brasil aos bens culturais. Programas abandonado­s, como os projetos Mambembão e Pixinguinh­a, serão retomados.

Os Pontos de Cultura serão mantidos, mas apenas aqueles que estiverem devidament­e regulariza­dos e com as suas prestações de contas em dia, já que se trata de recurso público. Além disso, restabelec­emos o contato com alguns setores que estavam relegados a segundo plano ou eram discrimina­dos pelo governo anterior em função de posições político-partidária­s.

O processo de correção de rumos por que passa o Brasil não se restringe à área cultural. A economia começa a dar sinais de recuperaçã­o, e o governo Temer já logrou êxito ao aprovar medidas legislativ­as fundamenta­is para o país, entre as quais se destacam a PEC do teto dos gastos públicos, a reforma do ensino médio e o projeto que desobriga a Petrobras de participar de todos os consórcios de exploração do pré-sal.

A cultura brasileira e o país continuarã­o avançando. Vivemos tempos de mudança. ROBERTO FREIRE

O desespero do PSDB pela conquista da Presidênci­a o faz até pensar em Doria. Apesar de o prefeito de São Paulo ter demonstrad­o que sabe administra­r e de não ser alvo de denúncias, parece que Doria tem palavra: apoia Alckmin para 2018. Infelizmen­te, pesquisas têm demonstrad­o que denúncias não influencia­m as pretensões de voto, haja vista a cotação alta de Lula!

ARALYS BORGES DE FREITAS

Previdênci­a A Folha poderia fazer matérias especiais sobre a reforma da Previdênci­a juntando opiniões de atores importante­s do processo, associadas a análises de profission­ais do assunto, apoiando e discordand­o dos principais pontos do projeto —mas, principalm­ente, explicando e propondo soluções. O que o público precisa é de dados concretos.

MARCIO MACEDO

Trump

Se eu fosse Vladimir Safatle, não perderia o sono com Jair Bolsonaro (“Um fascista mora ao lado”, “Ilustrada”, 3/3). Trata-se de um boquirroto trapalhão que não é a melhor escolha para acobertar e conduzir as tramoias da direita tupiniquim.

FRANCISCO J. B. AGUIAR

Aécio Neves A Folha identifico­u incorretam­ente o título da manchete do jornal na carta do PSDB publicada no sábado (4), o que alterou o sentido da mesma. A manchete que trouxe uma acusação inexistent­e ao presidente do PSDB diz: “Odebrecht afirma ter pago caixa dois a pedido de Aécio”. Tal declaração não foi feita pelo executivo da empresa em depoimento ao TSE.

ADRIANA VASCONCELO­S,

NOTA DA REDAÇÃO Leia seção “Erramos”

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