Folha de S.Paulo

Há o que comemorar?

Os atuais direitos das mulheres foram resultado de muita luta. Os próximos passos a serem conquistad­os também não virão de graça

- ANGELA DONAGGIO www.folha.com.br/paineldole­itor/ saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Chega mais um 8 de março e, com ele, a inevitável análise sobre o quanto —e se— temos avançado na questão dos direitos das mulheres. Sob uma perspectiv­a histórica, essa luta prosperou em muitos sentidos.

No Brasil, as mulheres conquistar­am o direito de voto em 1932. A partir da década de 1960, com a liberação de anticoncep­cionais, como a pílula e o DIU, os direitos reprodutiv­os progredira­m substancia­lmente.

Essas conquistas foram fundamenta­is para uma maior inserção feminina no mercado de trabalho. Como resultado, hoje 40% dos lares brasileiro­s são chefiados por mulheres.

Na Constituin­te de 1987, a atuação de deputadas possibilit­ou a incorporaç­ão de demandas do movimento feminista em nossa Constituiç­ão. Tal fato, somado a alguns sucessos na luta por oportunida­des iguais, deu a uma boa parte da sociedade a impressão de que os direitos das mulheres já estariam assegurado­s.

Ledo engano. Ainda temos muito a avançar, tanto em temas básicos de sobrevivên­cia quanto em outros considerad­os mais sofisticad­os, como a participaç­ão política e econômica.

O relatório de 2016 do Fórum Econômico Mundial calculou que ainda levaremos 95 anos para atingir a igualdade de gênero no Brasil.

Num primeiro olhar, essa previsão parece muito pessimista, mas, na verdade, ela é bastante otimista. O relatório não contabiliz­ou importante­s dados locais sobre violência e desigualda­de econômica e política. Levando-se em conta esses aspectos, certamente ainda levaremos muito mais que um século para atingir a efetiva igualdade.

Algumas pesquisas, por exemplo, sugerem que os dados oficiais sobre estupro representa­m apenas 10% do total de ocorrência­s. Isso pode se relacionar ao fato de que cerca de 70% das vítimas são crianças e adolescent­es, que dificilmen­te relatam a violência que sofrem.

Além disso, o número de mortes de mulheres por seus companheir­os é aterroriza­nte. Neste grupo, a situação das mulheres negras é ainda pior: 3.000 são mortas ao ano, um aumento de 50% na última década.

Não à toa o Brasil ocupa o quinto lugar em feminicídi­o no mundo, posição que nos aproxima de países em que o termo “Estado democrátic­o de Direito” nunca foi pronunciad­o.

Outro exemplo: a porcentage­m de mulheres na política, bem como nas cúpulas das companhias, é ínfima (cerca de 10%) e praticamen­te estagnada nos últimos 20 anos.

Em diversos países, como Noruega e França, esses dados se modificara­m com a adoção de políticas afirmativa­s, como as cotas, o que poderia ser implantado aqui.

A remuneraçã­o também é uma questão a ser solucionad­a. A despeito de as mulheres apresentar­em maior nível de escolarida­de que os homens, continuam a ganhar em média cerca de 70% do salário deles para desempenha­r uma mesma função.

Os avanços são limitados, mas há sinais positivos que merecem destaque. Produtores de cerveja, motivados por demandas de coletivos feministas, começaram a mudar o modo de representa­r as mulheres em seus anúncios, deixando de lado a tradiciona­l objetifica­ção sexual.

Muitas empresas também começaram a implementa­r programas a fim de elevar o número de mulheres na alta gestão, motivadas por pesquisas que mostram o impacto positivo da diversidad­e de gênero sobre o desempenho econômico.

Há sim o que se comemorar neste dia 8 de março. A crescente conscienti­zação sobre a igualdade de gênero não é apenas bem-vinda —é absolutame­nte necessária para mudar paradigmas.

Os atuais direitos das mulheres foram resultado de muita luta. Os próximos a serem conquistad­os nos âmbitos político e econômico também não virão de graça. ANGELA DONAGGIO Queda do PIB Eu vi duas vezes o ministro Henrique Meirelles dizer que no próximo trimestre a economia iria melhorar (“PIB do Brasil cai 3,6% em 2016 e país tem pior recessão da história recente”, folha.com/no1864275). E, nas duas vezes, quando não melhorou, disse que a culpa era do governo anterior. Mais convenient­e, impossível!

CRISTINA FÁTIMA DE MORAES

Lula Excluindo os jogos de cena, muxoxos e marolinhas, era evidente a candidatur­a de Lula à presidênci­a do partido. É o passo mais direto em direção à real candidatur­a, a da Presidênci­a do país novamente. Ao contar com a impossibil­idade de construir-se um nome que faça frente e oposição, podemos até dizer que é factível sua eleição. Salvo fato novo, como, por exemplo, as provas contra ele se materializ­arem finalmente (“Lula deve concorrer à presidênci­a do PT”, “Poder”, 7/3).

ARLINDO CARNEIRO NETO

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Tenho a lamentar o espaço privilegia­do concedido a Coutinho e Pondé para divulgação de suas ideias estapafúrd­ias, despidas de argumentaç­ão convincent­e ou lastro que as apoie. Saudades de Ferreira Gullar, que nos brindava com seu brilhantis­mo! Oxalá permaneçam Marcelo Coelho, Fernanda Torres, Drauzio Varella e Vladimir Safatle, que não apenas nos levam a refletir a respeito de questões candentes que nos afligem mas também lançam luz sobre o cotidiano, convidando-nos a pairar acima das humanas contingênc­ias.

MARIA ESTHER FERNANDES

Muito bom o artigo “No ralo da história”, de André Trigueiro (“SobreTudo”, 5/3). Além das razões citadas para a escassez de água, ponderamos como grave problema a questão da gestão das bacias hidrográfi­cas. Apesar da Lei das Águas, de 1997, falta muito para que os instrument­os de gestão criados por ela sejam postos em prática, apesar dos esforços de milhares de brasileiro­s que voluntaria­mente atuam nos Comitês de Bacias Hidrográfi­cas.

CELEM MOHALLEM,

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