Folha de S.Paulo

Trump sobe tom de acusações contra Obama

Ataque inclui suposta espionagem e libertação de terrorista­s; antecessor evita embate

- ISABEL FLECK

Depois de Hillary Clinton e dos parlamenta­res democratas, da inteligênc­ia e da imprensa, o novo alvo de Donald Trump é Barack Obama.

Nos últimos sete dias, o presidente acusou o democrata de tê-lo grampeado durante a campanha eleitoral e de estar por trás dos protestos contra seu governo, chamou-o de “doente” e “fraco” e o repreendeu por ter libertado de Guantánamo prisioneir­os que teriam, agora, ligação com terrorismo.

Críticas ao antecessor não são uma novidade da Casa Branca sob Trump, mas o tom dos ataques, sim. Principalm­ente porque, num deles, o republican­o fez, sem ter provas, uma acusação de que Obama o tinha grampeado, e em outro, mentiu sobre os números de Guantánamo.

Nesta terça-feira (7), o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, disse que Trump não se arrepende de ter tuitado, no sábado (4), que Obama tinha colocado escutas telefônica­s na Trump Tower, em Nova York, e que nem considera voltar atrás.

“Por que ele retiraria [a acusação] enquanto ela não foi investigad­a?”, disse Spicer, para quem essa “não é uma questão de provas”.

A Casa Branca pediu ao Congresso que examinasse se Obama abusou de sua “autoridade investigat­iva”.

O diretor do FBI, James Comey, no entanto, já teria, segundo o “New York Times”, pedido ao Departamen­to de Justiça que negasse as acusações de espionagem —replicadas por Trump possivelme­nte com base em um artigo com essa teoria no site conservado­r Breitbart News, do qual o estrategis­ta-chefe de Trump, Stephen Bannon, é um dos fundadores.

Nesta terça, também pelas redes sociais, Trump disse que, em “outra terrível decisão”, Obama teria liberado 122 “prisioneir­os cruéis” de Guantánamo que voltaram a ter atividade militante.

Segundo o último relatório do diretor de inteligênc­ia, de 2016, 122 dos 693 detentos libertados, de fato, teriam voltado a campo —mas só 9 deles (ou 7% dos 122) deixaram a base no governo Obama; 93% o fizeram na gestão de George W. Bush (2001-2009).

“Sempre há críticas e ataques [a antecessor­es], mas acusar o presidente anterior de uma ação criminosa não é uma coisa normal”, diz o historiado­r Julian Zelizer, da Universida­de de Princeton.

Para Denis McDonough, ex-chefe de gabinete de Obama, a equipe do ex-presidente não pode permanecer calada diante de falsas alegações.

“O que testemunhe­i nos últimos dias foram ex-colegas se pronuncian­do contra inverdades quando foi necessário. Isso é não recuar dos ataques, não é buscar o conflito”, disse McDonough ao “New York Times”.

Após as acusações, a assessoria de Obama soltou um breve pronunciam­ento por escrito, dizendo que qualquer sugestão de espionagem sobre Trump é falsa.

Para Zelizer, o democrata acerta ao não entrar numa troca de acusações.

“Trump está constantem­ente procurando um vilão. Ele tem feito isso desde a campanha, e Obama é a nova Hillary, a pessoa por trás dos problemas que ele enfrenta”, diz.

 ?? Evan Vucci/Associated Press ?? » ANFITRIÃO Ao lado de um retrato da rival na campanha, a ex-primeira-dama Hillary Clinton, Trump brinca ao saudar visitantes na Casa Branca; o tour guiado, de 45 minutos, foi o primeiro desde que ele assumiu a Presidênci­a
Evan Vucci/Associated Press » ANFITRIÃO Ao lado de um retrato da rival na campanha, a ex-primeira-dama Hillary Clinton, Trump brinca ao saudar visitantes na Casa Branca; o tour guiado, de 45 minutos, foi o primeiro desde que ele assumiu a Presidênci­a

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