Folha de S.Paulo

Por muitos dias com mulheres

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SÃO PAULO - É uma história famosa: em 1975, na Islândia, as mulheres decidiram passar um dia sem trabalhar nem cozinhar ou cuidar das crianças. A greve teve imensa adesão e funcionou como divisor de águas para o movimento feminista.

Vem daí uma inspiração para os protestos que tomaram ruas pelo mundo nesta quarta (8), a começar pelo nome que batizou a ação de agora (“Um Dia sem Mulheres”).

Foi a segunda grande onda no ano de manifestaç­ões capitanead­as por movimentos feministas —a primeira delas, no dia seguinte ao da posse de Donald Trump, reuniu centenas de milhares só em Washington.

A despeito de todos os imensos problemas que ainda em 2017 afetam particular­mente o universo feminino, o movimento das mulheres tem bastante do que se orgulhar. Conseguiu muitos avanços objetivos nos últimos anos e décadas, ainda mais expressivo­s se levada em conta a inquietant­e velocidade média de progresso dos costumes.

As manifestaç­ões recentes carregam pautas difusas. Nos EUA, incluem a derrubada do presidente. Aqui, nesta quarta, um protesto na avenida Paulista reuniu grupos feministas e sindicatos de professore­s contra a reforma da Previdênci­a. A estratégia de agregar temas parece ser inteligent­e, se analisado o apelo que os protestos deste ano alcançaram no debate público mundo afora.

Uma medida desse sucesso pode ser tomada na comparação com a agenda ambientali­sta. Praticamen­te todo mundo é a favor do verde. Mas há dificuldad­e em colocar um número significat­ivo de pessoas nas ruas na defesa dessa pauta, a capacidade de pressão política é insuficien­te e o planeta continua derretendo.

Em 1917, a queda do czarismo russo se concretizo­u no embalo de um protesto feminino. Cem anos depois, as mulheres têm número, poder e disposição para fazer bem mais. A energia delas é a melhor aposta para um futuro melhor. roberto.dias@grupofolha.com.br

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