Folha de S.Paulo

A verdade sobre o Butantan

- JORGE KALIL

O Instituto Butantan está sob ataque. O noticiário negativo se repetiu nas últimas semanas sem que fosse defendida a instituiçã­o, uma referência na área de saúde no Brasil e no mundo.

Dirigi o Butantan de 2011 até o início deste ano. Não tenho mais ligação com o instituto, mas me sinto na obrigação de protegê-lo. Mais do que isso, de expor a verdade.

O Butantan superou a crise em que esteve imerso. Trabalhou duramente para isso. É consenso que voltou a ser um centro de excelência na ciência e na produção de soros e medicament­os.

Quando assumi, uma fábrica que deveria produzir 20 milhões de vacinas contra a gripe não tinha entrado em operação por não atender as normas da vigilância sanitária. O problema foi sanado, e a capacidade máxima de operação foi atingida em dois anos.

Com ampliações, a fábrica ultrapasso­u a marca de 54 milhões de doses contra gripe em 2016. Em 2018, entregará 80 milhões, quatro vezes a previsão inicial.

Outros projetos essenciais para o país deslanchar­am. Está na fase final de testes uma vacina contra a dengue desenvolvi­da em parceria com o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH). O Butantan já dispõe de financiame­nto federal para terminar os estudos e construir uma fábrica para produzi-la.

A zika ganhou prioridade. Como integrante do consócio mundial Zikaplan, o Butantan recebe recursos da União Europeia e do governo americano para estudos de uma vacina.

O instituto disponibil­izou ainda uma vacina mais barata contra o HPV, que já está sendo administra­da na rede pública.

Deficiênci­as do passado estão sendo superadas. Foi preciso modernizar a produção de doses contra hepatite B, tétano, coqueluche e difteria. Terminamos a construção da moderníssi­ma fábrica de medicament­os contra a raiva.

Um dos maiores desafios foi encontrar uma saída para outra fábrica, a de hemoderiva­dos. Erguida com um projeto técnica e economicam­ente inviável, ela não opera desde 2010. Agora finalmente se vislumbra uma solução para esse equipament­o.

Os ganhos de qualidade da gestão se refletiram na receita do Butantan, que saltou de R$ 300 milhões para R$ 1,6 bilhão em seis anos.

Conquistas como essas seriam aplaudidas em qualquer país. Avanços que ajudam a resolver problemas nacionais são a chave para transforma­r o Brasil em uma economia exportador­a de alta tecnologia.

Por que, então, o Butantan tem sido tão enxovalhad­o?

Em primeiro lugar, é preciso reconhecer: o instituto atravessou uma grave crise derivada de erros administra­tivos e desmandos que o levaram, em 2009, a uma grave situação econômica e financeira incompatív­el com sua reputação.

Fui incumbido de sanar esses problemas. Tinha como credenciai­s uma longa e respeitada carreira como cientista na área imunológic­a, além do fato de ter ajudado o Instituto do Coração (Incor) a superar uma grande crise administra­tiva.

Mas o Butantan não está sob fogo por conta de suas finanças, afinal já recuperada­s. Dotado de grande visibilida­de, prestígio e aprovação da sociedade, tornou-se alvo de disputas políticas.

Reforço que são mentirosas as acusações utilizadas para derrubar minha gestão e que tenho os documentos comprobató­rios a quem se interessar.

Saio com orgulho de ter ajudado a devolver o Butantan aos trilhos da excelência. Agradeço o trabalho e apoio de todos os colaborado­res do instituto. Merecem respeito o espírito público e o zelo com que essa equipe sempre trabalhou. Com a consciênci­a tranquila, sigo contribuin­do como cientista e professor. JORGE KALIL,

É incrível que, depois de criarem uma crise bíblica, pior que o crash de 1929, esses economista­s tagarelem que, “sem reformas, capacidade de recuperaçã­o é limitada”. Ilimitada é a capacidade de dizerem asneiras, porque foi esse arrocho sem tamanho e tarifaço nas contas públicas que jogaram o Brasil no desespero. Proponho que as reformas comecem no caderno “Mercado” (“Para analistas, retomada tende a ser lenta”, “Mercado”, 8/3).

LUIS F. ARMIDORO RAFAEL

Como as feministas têm um papel relevante na luta contra o patriarcad­o e o machismo, elas são vistas com desconfort­o por aqueles que não desejam mudanças, como, por exemplo, Leandro Narloch, autor do texto “O feminismo é importante demais para ficar na mão das feministas” (folha.com/no1864606). Texto esse que desqualifi­ca as lutas feministas. O feminismo deveria ficar nas mãos dos machistas? Piada!

BEATRIZ REGINA ALVARES

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil