Folha de S.Paulo

Falar com a ministra Carmen Lúcia [presidente do STF].

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O novo ministro da Justiça, Osmar Serraglio (PMDB), afirma que o presidente Michel Temer só pode ser atingido por investigaç­ões se houver prova objetiva de “que ele sabia que estavam recebendo dinheiro indevido”.

Em entrevista à Folha, disse que o Ministério Público deve ter elementos mais fortes para fazer denúncia.

Serraglio considera haver corrupção generaliza­da no país, incluindo todos os partidos. “Não sei como vai corrigir isso.”

O ministro defendeu uma tese polêmica, a de que “bandido de menor gravidade” não deve ser preso. Acusados de corrupção, o sr. considera que também não deveriam estar presos?

São outros casos. Aí não entro. Não dá para dizer que não tenha nível de corrupção. Você pega um corrupto em uma prefeitura, que levou para casa um papel sulfite. É um corrupto. A grande corrupção é diferente. É um dano social que nem a sociedade percebeu. O tamanho do dano da corrupção, esse apoderamen­to que a gente viu do Estado. Ontem eu vi, US$ 3 bilhões [que um delator da Odebrecht diz que a empresa pagou em propina]. Acho que uma parte de uma geração se foi. A corrupção se generalizo­u. Quando o exemplo vem de cima, todo mundo acha que é possível. você não pode ser franco demais e não pode opinar demais. Se eles acharem que devam fazer, eu faço. Tem a questão no TSE que coloca o seu próprio governo processado. Teme que seu governo não chegue ao fim?

Não. Vai chegar ao fim. Acredito na possibilid­ade de chegar ao fim. Não só na possibilid­ade, acredito que vai chegar ao fim. Nós temos no direito a responsabi­lidade objetiva e a subjetiva. O que é subjetiva? Eu, Osmar Serraglio, saber o que está sendo feito. Para o Michel ser envolvido, precisa que se demonstre a responsabi­lidade subjetiva. Ele pode nunca ter sabido. Como eu tenho observado, que ele nunca discutiu valores. Vai ter que aparecer que ele sabia que estavam recebendo dinheiro indevido. do imperador romano, acho que foi Crasso [na verdade foi Vespasiano], ele começou a tributar as prostituta­s [na verdade, o uso das latrinas]. Falaram: é um ilícito, e tão cobrando. Aí ele falou, ‘pecunia non olet’, o dinheiro não cheira. O dinheiro não vem carimbado assim ó, esse é de corrupção, não encosta que esse é de corrupção. Na primeira lista do Janot [leva de investigaç­ões pedidas pela Procurador­ia há dois anos] só cinco políticos viraram réus até agora. O sr. vê morosidade?

Como vou saber quem está na lista e o nível de comprometi­mento? Joaquim Barbosa, que virou um herói nacional, demorou anos com a ação do mensalão. Até acho bom que a investigaç­ão seja mais aprofundad­a. Tem que ter um convencime­nto mais forte. Mas cada caso é um caso. O delator só, a delação dele não serve se não tiver algum elo.

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