‘É preciso salvar a política’, afirma Aécio
Em jantar, senador e presidente do PSDB defendeu tese de que caixa dois deve ser diferenciado de enriquecimento
Deputados da base e da oposição, como Chico Alencar (PSOL-RJ) se reuniram em restaurante de Brasília
Já passava da meia-noite de quarta (8) quando o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), definiu o pensamento de grande parte da classe política do país diante da Lava Jato: “Todo mundo vai ficar no mesmo bolo e abriremos espaço para um salvador da pátria? Não, é preciso salvar a política”, afirmou o tucano no restaurante Piantella, reduto de políticos em Brasília.
“Um cara que ganhou dinheiro na Petrobras não pode ser considerado a mesma coisa que aquele que ganhou cem pratas para se eleger”, continuou Aécio, em defesa da tese de que caixa dois para financiar campanhas eleitorais deve ser diferenciado do crime praticado por quem obteve recursos para enriquecer pessoalmente.
O discurso fazia eco à recente nota do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que, em defesa do próprio tucano, afirmou que era importante fazer “distinções” entre quem recebeu recursos de caixa dois e quem obteve dinheiro para enriquecer.
Segundo FHC, esses são “dois atos, cuja natureza penal há de ser distinguida pelos tribunais” e que o segun- do método é “crime puro e simples de corrupção”.
“Visto de longe tem-se a impressão de que todos são iguais no universo da política e praticaram os mesmos atos”, diz a nota. “No importante debate travado pelo país distinções precisam ser feitas. Há uma diferença entre quem recebeu recursos de caixa dois para financiamento de atividades político-eleitorais, erro que precisa ser reconhecido, reparado ou punido, daquele que obteve recursos para enriquecimento pessoal, crime puro e simples de corrupção.”
Aécio chegou pouco depois das 22h, logo após a saída do presidente Michel Temer, a um jantar em homenagem aos 50 anos de profissão do jornalista e blogueiro de “O Globo”, Ricardo Noblat, que reuniu ministros, ex-ministros e parlamentares.
O tucano cumprimentou alguns convidados e logo se sentou a uma mesa redonda que, entre outros, contemplava o deputado de oposição Chico Alencar (PSOL-RJ) que, em tom descontraído, avisou o presidente do PSDB: “Não dá para ter essa conversa franca com Sarney e Renan”.
Aécio sorriu. O deputado se referia aos ex-presidentes do Senado José Sarney (PMDB-AP) e Renan Calheiros (PMDB-AL), em quem Alencar disse não confiar.
O tucano ouviu atentamente ao colega e afirmou que os dois precisavam conversar mais. “Vamos fazer um partido, eu e você? O partido do bem”, brincou Aécio.
Foi a vez de Alencar sorrir e continuar ouvindo o discurso do senador tucano.
“Vamos nos autoexterminar?”, questionou Aécio em referência à disputa entre partidos diante das denúncias vazadas de dezenas de delações firmadas entre empresários, políticos e agentes públicos com a Lava Jato. “É preciso salvar a política. Não podemos deixar que tudo se misture”, completou o tucano. DEPOIMENTOS O tom de Aécio diante do deputado do PSOL e de seu colega de Câmara Heráclito Fortes (PSB-PI), que também estava à mesa, complementava vídeo divulgado pelo próprio tucano após vazamento do conteúdo dos depoimentos do ex-presidente da Odebrecht Marcelo Odebrecht e do ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Júnior, o BJ, ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
De acordo com BJ, a empreiteira doou R$ 9 milhões em caixa dois para campanhas do PSDB em 2014, quando Aécio concorreu ao Planalto. O pedido, disse, teria sido feito por Aécio. BJ afirma que, como presidente do partido, o tucano solicitou doações para outros candidatos.
Em sua defesa, Aécio diz que pediu apoio, mas que jamais solicitou que a ajuda fosse feita por meio de caixa dois.