Grupo de Cunha tenta se impor, diz Renan
Líder do PMDB no Senado diz ver sinais de disputa por espaço no governo entre aliados de ex-deputado e PSDB
Segundo ele, grupo poderá tentar indicar um aliado para a Casa Civil, se Padilha não retornar de licença
O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), disse que o ministro Eliseu Padilha “deveria voltar imediatamente” de sua licença médica para evitar que o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) instale um aliado na Casa Civil.
Segundo ele, o governo do presidente Michel Temer é alvo de uma disputa entre o PSDB e um grupo de deputados comandado por Cunha, ex-presidente da Câmara, preso em Curitiba por causa da Operação Lava Jato.
Renan poupou a indicação do senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) para o Ministério de Relações Exteriores, mas condenou a escolha de Osmar Serraglio (PMDB-PR) para o Ministério da Justiça, de André Moura (PSC-SE) para a liderança do governo no Congresso e de Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) para a liderança do governo na Câmara.
“A política se compreende pelos sinais. Os últimos sinais emitidos pelo governo com as nomeações são que há uma disputa interna entre o PSDB e o núcleo originário da Câmara dos Deputados, que foi liderado pelo Eduardo Cunha”, afirmou Renan.
“Se [Michel Temer] não está fazendo esta leitura, deve estar equivocado pelas decisões que tomou”, disse ele, afirmando que defende o PSDB na tal disputa e citando o ex-presidente argentino Juan Domingo Perón. “Política não se aprende, se compreende.”
Mais cedo, Renan esteve no Planalto para uma conversa com o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral), homem muito próximo a Temer.
Ele disse ter alertado o ministro de que, se Padilha não reassumir logo a Casa Civil, Cunha colocará no lugar o atual subchefe para Assuntos Jurídicos da pasta, Gustavo do Vale Rocha, que já atuou como seu advogado.
Padilha submeteu-se a uma cirurgia na próstata no Rio Grande do Sul e recebeu alta nesta quarta.
“Hoje, falei para o Moreira: ‘avisa ao Padilha que volte o mais imediatamente possível, porque, senão, o Eduardo Cunha vai sentar o Gustavo Rocha na cadeira dele’. Esses são os sinais que a política tem emitido”, afirmou Renan.
Questionado pelos jornalistas se Temer estava sendo alvo de chantagem, Renan esquivou-se, mas citou o juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato.
“Moro, há 20 dias, estava defendendo o presidente da chantagem de Eduardo Cunha, negando as perguntas [encaminhadas pelo ex-presidente da Câmara ao presidente da República]”, afirmou Renan.
Ele também criticou o PMDB da Câmara, que tenta articular o afastamento do senador Romero Jucá (RR) da presidência do partido. “Depois de tomar conta do governo, vai querer tomar conta do partido”, afirmou.