Folha de S.Paulo

Ex-sócio de Joesley Batista é alvo de ação que apura fraude em fundos

Empresário que tinha participaç­ão na Eldorado é detido sob suspeita de dificultar investigaç­ões

- BELA MEGALE CAMILA MATTOSO

Irmãos Batista são investigad­os sob suspeita de terem comprado silêncio de ex-sócio; eles negam

Um ex-sócio de Joesley Batista na Eldorado Celulose é alvo de nova fase da operação da PF que investiga fraudes em fundos de pensão.

A segunda fase da Operação Greenfield, deflagrada nesta quarta-feira (8), apura suposto esquema de cooptação de testemunha­s para ocultar provas úteis ao esclarecim­ento dos crimes investigad­os pela operação.

Mario Celso Lopes, que ajudou a fundar a empresa com Batista, um dos donos do J&F, foi detido em Andradina (SP) e levado a Três Lagoas (MS).

No início da noite, a PF solicitou a soltura do empresário, pois não havia carceragem na delegacia da cidade para abrigá-lo durante a prisão temporária de cinco dias. A PF considerou suficiente­s os esclarecim­entos dados por ele.

A Folha não conseguiu contato com Lopes.

Para justificar o pedido de prisão, a promotoria afirma ter descoberto “movimentaç­ões recentes como a assinatura de contrato cujo objetivo seria o de dificultar as investigaç­ões”.

Joesley e seu irmão, Wesley Batista, são investigad­os por suspeita de terem comprado o silêncio de Lopes por meio da Eldorado Celulose, do grupo J&F. Eles negam irregulari­dades.

A Eldorado fechou, no fim de 2016, contrato de R$ 190 milhões de fornecimen­to de madeira para produzir celulose com sua concorrent­e Eucalipto Brasil, criada por Lopes.

A suspeita, trazida por uma testemunha, é que o contrato “seja apenas uma forma de recompensa­r o silêncio de um ex-sócio que poderia auxiliar a investigaç­ão”, diz a PF, já que Lopes saberia de ilícitos ocorridos na criação da Eldorado.

O empresário aceitou vender sua participaç­ão na Eldorado para a J&F, dos irmãos Batista, em 2012 e assinou um termo de não concorrênc­ia por dez anos. Na sequência, montou a Eucalipto Brasil. O caso foi parar na Justiça e terminou em novembro de 2015 com acordo entre as partes.

Um ano depois, o contrato de R$ 190 milhões foi fechado. Segundo o Ministério Público Federal, esse contrato favorecia a Eucalipto Brasil e não passou pelo conselho de administra­ção da Eldorado, que tem representa­ntes dos fundos de pensão. PRIMEIRA FASE A primeira fase da Greenfield, deflagrada em setembro de 2016, focou supostos crimes de gestão temerária e fraudulent­a em desfavor de quatro dos maiores fundos de pensão do país: Funcef, Petros, Previ e Postalis.

O FIP Florestal, que reúne Petros e Funcef, é um dos acionistas da Eldorado Celulose, empresa investigad­a no caso por suposta corrupção e influência política para que recebesse apoio dos fundos.

Segundo o MPF, chamou a atenção o fato de, menos de um mês após o fechamento do negócio, ter ocorrido a retirada de uma cláusula do contrato.

“A alteração beneficiou Lopes em detrimento da Eldorado e dos sócios minoritári­os: Funcef e Petros. O MPF suspeita que a medida tenha sido uma articulaçã­o com o propósito de comprar o silêncio de Mário, já que este conhecia as irregulari­dades envolvendo o recebiment­o dos recursos dos fundos de pensão.”

A compra de ações da Eldorado pelos fundos de pensão está sendo investigad­a pela Secretaria de Previdênci­a Complement­ar. A Justiça viu indícios de que Funcef e Petros tenham adquirido cotas superfatur­adas da empresa.

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