Relíquias do clube Tietê acumulam pó em sala de troféus abandonada
Espaço administrado pela prefeitura se deteriora; gestão Doria diz que buscará parceiro
Num canto da sala improvisada, as telhas estão quebradas, o que faz escorrer água de chuva pela parede.
Sob o buraco no teto, o armário de madeira recheado de troféus está podre, quase despencando. Relíquias esportivas estão tombadas sobre as prateleiras —podendo cair a qualquer momento.
As poças no chão, o acúmulo de pó e de sujeira se espalham por todos os cantos. O vidro da porta principal está quebrado. Tudo contribui para a deterioração dos tesouros guardados no local.
A cena “desoladora”, nas palavras de Lauro de Melo Carvalho, último presidente do tradicional Clube de Regatas Tietê, que teria completado 110 anos em fevereiro, é parte do espaço público administrado atualmente pela Prefeitura de São Paulo.
O decreto de 2013 que desapropriou o clube atolado em dívidas— e devolveu a área para a prefeitura assinalava que o poder público seria o responsável pela manutenção do memorial do histórico Tietê, que seria montado em uma sala da antiga agremiação.
Segundo André Navarenho, o último diretor do acervo do Tietê, havia 2.500 peças na sala de troféus antes do fechamento, em 2012. Todas acumuladas ao longo dos mais de 100 anos da instituição esportiva paulistana.
Dentro dos muros do Tietê surgiram nomes como o da tenista Maria Esther Bueno e da nadadora Maria Lenk.
As piscinas, na reconfiguração do espaço feita pela prefeitura, foram demolidas.
Nas quadras de tênis, de saibro, o piso está em condições tão ruins que dificilmente algum outro grande campeão pode surgir por ali.
Outra peça importante do acervo, que fica na entrada do clube, também está empoeirada, com teias de aranha.
O busto em homenagem a Maria Esther Bueno está sem nenhum tipo de identifica- ção. As gerações mais jovens vão ter dificuldade de reconhecer a maior jogadora da história do tênis nacional.
No levantamento de Navarenho, que garimpou as relíquias do Tietê por seis anos, existem troféus, medalhas e outros objetos, como bandeiras e flâmulas, referentes a quase todos os 25 esportes praticados pelos tieteanos.
Até a popa original da baleeira Aracy está lá, sem nenhum cuidado. O barco está intrinsecamente ligado à fundação do clube. Ele era o protagonista da primeira regata da história do Tietê em 1907, estreando com vitória. OUTRO LADO O secretário de Esportes da gestão João Doria (PSDB), Jorge Damião, afirmou à Folha que dentro de 30 a 40 dias a condição da sala de troféus estará resolvida. “A situação esteve pior. Nós tiramos vários restos de obra que existiam lá. Agora, estamos catalogando tudo. Vamos reformar e organizar o espaço.”
Como não existe dotação orçamentária para manutenção do memorial, diz, será preciso buscar um parceiro para financiar a reforma.
O secretário admite que o estado do memorial é “vergonhoso”. Quanto ao busto da tenista Maria Esther Bueno, diz que a limpeza vai ser feita nos próximos dias.
“Estamos levantando o registro da peça, para saber quem fez, e todos os dados dela, para colocar a nova placa de identificação”.