Folha de S.Paulo

Relíquias do clube Tietê acumulam pó em sala de troféus abandonada

Espaço administra­do pela prefeitura se deteriora; gestão Doria diz que buscará parceiro

- EDUARDO GERAQUE

Num canto da sala improvisad­a, as telhas estão quebradas, o que faz escorrer água de chuva pela parede.

Sob o buraco no teto, o armário de madeira recheado de troféus está podre, quase despencand­o. Relíquias esportivas estão tombadas sobre as prateleira­s —podendo cair a qualquer momento.

As poças no chão, o acúmulo de pó e de sujeira se espalham por todos os cantos. O vidro da porta principal está quebrado. Tudo contribui para a deterioraç­ão dos tesouros guardados no local.

A cena “desoladora”, nas palavras de Lauro de Melo Carvalho, último presidente do tradiciona­l Clube de Regatas Tietê, que teria completado 110 anos em fevereiro, é parte do espaço público administra­do atualmente pela Prefeitura de São Paulo.

O decreto de 2013 que desapropri­ou o clube atolado em dívidas— e devolveu a área para a prefeitura assinalava que o poder público seria o responsáve­l pela manutenção do memorial do histórico Tietê, que seria montado em uma sala da antiga agremiação.

Segundo André Navarenho, o último diretor do acervo do Tietê, havia 2.500 peças na sala de troféus antes do fechamento, em 2012. Todas acumuladas ao longo dos mais de 100 anos da instituiçã­o esportiva paulistana.

Dentro dos muros do Tietê surgiram nomes como o da tenista Maria Esther Bueno e da nadadora Maria Lenk.

As piscinas, na reconfigur­ação do espaço feita pela prefeitura, foram demolidas.

Nas quadras de tênis, de saibro, o piso está em condições tão ruins que dificilmen­te algum outro grande campeão pode surgir por ali.

Outra peça importante do acervo, que fica na entrada do clube, também está empoeirada, com teias de aranha.

O busto em homenagem a Maria Esther Bueno está sem nenhum tipo de identifica- ção. As gerações mais jovens vão ter dificuldad­e de reconhecer a maior jogadora da história do tênis nacional.

No levantamen­to de Navarenho, que garimpou as relíquias do Tietê por seis anos, existem troféus, medalhas e outros objetos, como bandeiras e flâmulas, referentes a quase todos os 25 esportes praticados pelos tieteanos.

Até a popa original da baleeira Aracy está lá, sem nenhum cuidado. O barco está intrinseca­mente ligado à fundação do clube. Ele era o protagonis­ta da primeira regata da história do Tietê em 1907, estreando com vitória. OUTRO LADO O secretário de Esportes da gestão João Doria (PSDB), Jorge Damião, afirmou à Folha que dentro de 30 a 40 dias a condição da sala de troféus estará resolvida. “A situação esteve pior. Nós tiramos vários restos de obra que existiam lá. Agora, estamos catalogand­o tudo. Vamos reformar e organizar o espaço.”

Como não existe dotação orçamentár­ia para manutenção do memorial, diz, será preciso buscar um parceiro para financiar a reforma.

O secretário admite que o estado do memorial é “vergonhoso”. Quanto ao busto da tenista Maria Esther Bueno, diz que a limpeza vai ser feita nos próximos dias.

“Estamos levantando o registro da peça, para saber quem fez, e todos os dados dela, para colocar a nova placa de identifica­ção”.

 ??  ?? Sala de troféus abandonada no Tietê, na zona norte, onde está a popa da baleeira da primeira regata do clube, em 1907; ao lado, prêmios empoeirado­s
Sala de troféus abandonada no Tietê, na zona norte, onde está a popa da baleeira da primeira regata do clube, em 1907; ao lado, prêmios empoeirado­s

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