Folha de S.Paulo

Para ator japonês, experiênci­a com Scorsese foi quase espiritual

- CARA BUCKLEY

Em “Silêncio”, o ator Issey Ogata rouba todas as cenas de que participa. Ele interpreta um funcionári­o do governo, o Inquisidor, que emprega diversos métodos, entre os quais tortura, para tentar forçar o personagem de Andrew Garfield, Rodrigues, a abrir mão de seu Deus.

Ogata, ator e humorista, empresta tal profundida­de, humor e curiosidad­e ao papel que teria merecido indicação automática para o Oscar de ator coadjuvant­e.

Na sede da Paramount em Los Angeles, Ogata, com dignidade e graça impecáveis apesar do intenso “jet lag” do voo que o trouxera do Japão, conversou com a autora desta coluna —que sofre de “jet lag” mesmo que a diferença de fuso horário seja de uma hora. A seguir, alguns trechos da conversa, intermedia­da por um tradutor japonês. crucifixão, fogo. O que fazia sentido para mim é que o governo do Japão se sentisse muito incomodado por seu povo —que deveria respeitar e acreditar em seu governo e em seu país acima de tudo— ter decidido entregar o coração a Deus, a esse ser de outro país. E por isso existiu intensa frustração e ciúme. Parecia que o seu personagem estava profundame­nte interessad­o nos motivos dos missionári­os para fazerem o trabalho deles. Isso foi instrução de Scorsese ou algo que lhe ocorreu naturalmen­te?

Fico feliz por você dizer isso. Quando interprete­i o papel, meu foco mais intenso era naquilo que Rodrigues podia estar sentindo, o lugar em que ele se encontrava, espiritual­mente. O Inquisidor, aprendi durante a minha pesquisa, era cristão, mas, como alto funcionári­o do governo, veio a ser encarregad­o de perseguir os cristãos.

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Kerry Brown/Divulgação Liam Neeson é Cristóvão Ferreira, jesuíta que some no Japão

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