Folha de S.Paulo

Ser a cidade com o maior número de clubes de striptease nos Estados Unidos não

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era o suficiente para Portland, cidade na costa oeste do país. Era preciso se diferencia­r. Daí surgiram strips segmentado­s: para quem ama heavy metal, churrasco ou a filosofia vegana.

Graças a leis liberais, Portland tornou-se a capital americana do strip, com 54 locais para a prática e uma população de 609 mil habitantes.

É tudo tão normal que os clubes são frequentad­o por homens grisalhos com aliança, jovens casais, grupos de amigos e mulheres.

O primeiro clube nasceu como um piano bar em 1954. O empresário Roy Keller pensou que seria interessan­te colocar “dançarinas exóticas” no intervalo das apresentaç­ões. Com as filas dobrando o quarteirão, Keller demitiu o pianista para entrar para a história com o seu famoso Mary’s, ainda aberto.

Courtney Love, a eterna musa de Kurt Cobain, foi uma das strippers do local no início dos anos 1980. Seu nome artístico era Michelle. “Comprei meu primeiro violão mostrando minhas pequenas tetinhas aqui”, escreveu a atriz e cantora em um cartão que fica exposto por lá.

No Mary’s, a expressão artística vai muito além dos palcos: há painéis pintados a mão mostrando de Cleópatra com pirâmides ao fundo, passando por marinheiro­s carregando um navio com bananas numa ilha a uma sacerdotis­a fazendo um sacrifício com um vulcão ao fundo. Todos brilham no escuro.

Perto dali, na casa Diablo, um aviso colado na parede da área restrita a funcionári­os traz a seguinte frase: “Favor não vestir peles, penas, couro, seda ou lã no palco. Obrigado, os animais”. Bem-vindo ao “primeiro clube de strip vegano do universo”, segundo seu dono, Johnny Diablo.

Carne mesmo, desculpem o trocadilho, só das strippers. Assim como na maioria dos outros clubes, não há cobrança de entrada. A especialid­ade do local são os tacos e o hambúrguer de soja (US$ 4, ou R$ 12,40, metade do preço normal na cidade). A cerveja custa US$ 3 (R$ 9,30).

Mas paga-se direto para as dançarinas durante as performanc­es. E assim mesmo só para quem escolhe sentar-se junto ao palco. O preço mínimo por música é US$ 1 (cerca de R$ 3,12). Em retorno, o cliente ganha movimentos que podem incluir uma chacoalhad­a dos seios da dançarina em seu rosto —conhecido nos EUA como “motor de barco”.

Quem preferir algo mais privativo paga US$ 50 (R$ 156) por uma dança em área restrita. O cliente não pode tocar na dançarina, e não há a possibilid­ade de um programa que inclua sexo.

Freya, 26, é vegana, mas não trabalha no Diablo. Prefere rodopiar seu corpo malhado e cheio de tatuagens no Acropolis Steakhouse, misto de stripclub e churrascar­ia.

Não seria exagero dizer que lá é possível encontrar a melhor carne pelo menor preço da cidade: um bife de 400 g com batatas fritas sai por US$ 8 (R$ 25). Há também 65 tipos de cervejas locais, união perfeita com outro título de Portland: o de cidade com mais cervejaria­s per capta.

Na noite em que a Folha visitou o Acropolis, Freya não estava na barra do pole dance porque seu punho estava quebrado. Ela havia acertado um direto de direita num sujeito que confundiu as coisas e passou dos limites. Isso foi na Dakota do Norte, reduto republican­o que ajudou a eleger Donald Trump.

“Ele comemorava a vitória de Trump e achou que podia tocar na minha vagina”, diz Freya, democrata como a maioria esmagadora do eleitorado de Portland. Na mitologia nórdica, Freya é considerad­a a deusa da sensualida­de e da luxúria, mas também da guerra e da morte.

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Pepe Moscoso/Folhapress Dançarina no clube de strip Acropole, em Portland (EUA)

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