Folha de S.Paulo

Macris paga ‘república’ a assessores com recursos da Assembleia de SP

Deputado do PSDB, que deve se eleger presidente da Casa, aluga apartament­o para servidores

- REYNALDO TUROLLO JR. GABRIELA SÁ PESSOA

Verba usada é para que deputados mantenham gabinetes externos; tucano nega que haja irregulari­dades no caso

O deputado estadual Cauê Macris (PSDB), que deve ser eleito presidente da Assembleia Legislativ­a de São Paulo nesta quarta-feira (15), utiliza verba de gabinete para bancar uma “república” para três de seus assessores.

Os funcionári­os são originalme­nte de Americana (127 km de São Paulo), reduto eleitoral de Macris, e trabalham na capital durante a semana, quando moram no apartament­o pago pela Assembleia.

Além de moradia, eles recebem os salários relativos aos cargos comissiona­dos que ocupam —nos valores de R$ 11.152, R$ 7.182 e R$ 2.944— e demais benefícios.

O apartament­o alugado fica em um condomínio residencia­l no bairro da Aclimação (zona sul de São Paulo). A Folha esteve no local na tarde desta terça-feira (14), mas os moradores não estavam.

O preço do aluguel e do condomínio é de R$ 2.656,50, segundo a prestação de contas de Macris, disponível no site da Assembleia.

De 2012, quando o tucano estava no primeiro mandato, até hoje, o Parlamento já desembolso­u para o aluguel da “república” R$ 174,7 mil.

A assessoria do deputado afirmou, em nota, que não há irregulari­dades na utilização dessa verba, que existe para garantir estrutura de trabalho, e que a prestação de contas é aprovada mensalment­e pelo Núcleo de Fiscalizaç­ão e Controle da Assembleia.

Macris também aluga um imóvel em Americana onde mantém seu escritório político na cidade. Pelo aluguel ali, paga R$ 3.500 por mês.

Tanto no caso de Americana como no do apartament­o da Aclimação, os recursos destinados ao pagamento dos aluguéis são aqueles previstos nas normas da Casa para que os deputados criem projeções de seus gabinetes —escritório­s políticos fora do prédio da Assembleia, geralmente nas cidades de origem.

O apartament­o da Aclimação não funciona como escritório político, somente como moradia para os assessores.

Um ato da Mesa Diretora de 2002 determina que podem ser ressarcida­s despesas com “aluguel de imóveis destinados às instalaçõe­s das projeções dos Gabinetes dos Deputados no Estado de São Paulo, [...] bem como as despesas ordinárias de condomínio, água, telefones, gás, energia elétrica e tributos concernent­es a esses imóveis; material de consumo; locação de móveis e equipament­os”.

Não há menção expressa a moradia de funcionári­os.

Outra norma da Casa, de 2013, permite que deputados do interior gastem até R$ 2.850 por mês para sua própria hospedagem na capital.

O dono do imóvel alugado na Aclimação, Walter Caccáos, tem ligações com a família Macris. Em 2006, ele doou R$ 600 para a campanha de Vanderlei Macris, pai de Cauê, a deputado federal, conforme registrado na Justiça Eleitoral.

Cauê Macris tem apoio do governador Geraldo Alckmin para presidir a Assembleia e espera ter cerca de 90 dos 94 votos possíveis. Em seus discursos, ele valoriza o corte de gastos em tempos de crise.

 ?? Alesp ?? O deputado Cauê Macris, que deverá presidir a Assembleia
Alesp O deputado Cauê Macris, que deverá presidir a Assembleia

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil