Folha de S.Paulo

Além do impacto

A despeito do alarido inicial causado pelos pedidos de inquérito contra políticos, governo Temer pode e deve manter sua agenda legislativ­a

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Ostentando, pelo que já se apurou, os nomes dos presidente­s do Senado e da Câmara, além de ao menos cinco ministros, dez governador­es, dois ex-presidente­s e vários senadores, a lista de 83 pedidos de inquérito elaborada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, produz compreensí­vel alarido em Brasília.

Figuras centrais na sustentaçã­o do governo Temer, como os ministros peemedebis­tas Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidênci­a), são apontados como beneficiár­ios do esquema de propinas da construtor­a Odebrecht revelado pela Lava Jato.

Ao lado deles aparecem políticos de primeiro plano no cenário pósimpeach­ment, como os senadores Aécio Neves (PSDB-MG), José Serra (PSDB-SP), Romero Jucá (PMDBRR) e Edison Lobão (PMDB-MA).

Ainda a depender de divulgação oficial e integral —o que está para ser decidido pelo relator do caso no Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin—, a lista pode ser acrescida nos próximos dias de mais nomes e detalhes.

É tal o volume das informaçõe­s e denúncias que, com algum exagero, seria o caso de considerar mais fácil apontar quem dela foi excluído, como, até aqui ao menos, o presidente Michel Temer (PMDB).

Não se deve concluir, entretanto, que o apocalipse esteja batendo às portas de Brasília. Fez-se algo rarefeita, por exemplo, a memória de que outra lista com pedidos de investigaç­ão foi enviada por Janot ao STF dois anos atrás.

Eram 25 os inquéritos solicitado­s na relação anterior, bem menos que os de agora. Mesmo assim, dos 47 políticos apontados como suspeitos em 2015, somente seis passaram à condição de réus, dois eles nos últimos dias.

O cronograma inegociáve­l do Estado de Direito faz com que dependa do Judiciário a aprovação para o início das investigaç­ões —que levarão tempo. Meses ou anos haverão de transcorre­r até que, concluída essa etapa, seja ou não aceita pelos tribunais uma denúncia formal. Apenas em caso positivo os envolvidos se tornarão réus.

Passado o impacto inicial da lista, o clima tende a arrefecer. Com a escassa popularida­de que se conhece, ainda assim o governo Temer dispõe de tempo e apoio parlamenta­r para prosseguir.

Uma agenda de reformas incontorná­veis na Previdênci­a, no sistema tributário e, talvez, na área política, portanto, não se vê necessaria­mente abalada pela crise, já crônica, aberta pela Lava Jato.

A aprovação dessas medidas se impõe como desafio imediato, ao qual as forças políticas têm condições —e a obrigação— de responder, sem que isso exclua o imperativo de que investigaç­ões e eventuais processos sigam com diligência e respeito aos protocolos legais.

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