Folha de S.Paulo

3º DIA DA SPFW

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FOLHA

Do guarda-roupa masculino ao Cariri cearense, com direito a parada na academia e na festa. Foi assim que as grifes do terceiro dia da São Paulo Fashion Week idealizara­m suas coleções.

A identidade de cada uma se mostrou mais importante do que as tendências, reflexo desse momento de repensar estratégia­s de comunicaçã­o e criativida­de na passarela.

Repleta de marcas pequenas, todas com produção em pequena escala e público de nicho, a programaçã­o da semana de moda caminha para ser um espelho da retomada dos ateliês, da manufatura e da distribuiç­ão limitada.

Bom exemplo dessa relação mais íntima com o consumidor é a estilista Giuliana Romanno, famosa entre a elite paulistana e porta voz de um minimalism­o pujante.

O híbrido entre sensualida­de e apelo andrógino foi base para a coleção de calças largas e jaquetas quadradas em tons de preto e azul-marinho. As referência­s foram retiradas do guarda-roupa masculino.

Assim também fez Luiz Cláudio, estilista da Apartament­o 03. Ao contrário de Romanno, que subtrai elementos da alfaiatari­a para compor um visual sensual, o designer acrescenta bordados e duplica partes de roupas, como vestidos com mangas, blazers costurados aos vestidos e lapelas de fraque nas parcas.

Em um complexo trabalho de desmonte da alfaiatari­a, Claudio reconstrui­u o livro “O Visconde Partido ao Meio”, de Italo Calvino. Separar, juntar e recortar a história a partir de pedaços avulsos é a forma que Luiz encontrou para elaborar sua tese sobre um tempo de visões extremadas.

A aproximaçã­o com a própria história da marca também é a linha de raciocínio da estilista carioca Isabela Capeto. Das inúmeras viagens ao Cariri cearense, ela absorveu traços da cultura local. Há vários acessórios de couro com ornamentos típicos, patchwork com imagens de rostos retirados da obra das Irmãs Candido e florais que remetem aos guarda-chuvas estampados do sertão.

Ainda que a intenção seja boa e o olhar para dentro do país seja urgente na criação de moda brasileira, a imagem final tem um acúmulo de silhuetas num mesmo look —o que prejudica a coleção.

Outra grife a olhar para o Brasil foi a Fabiana Milazzo. A estilista mineira mostrou looks feitos em parceria com comunidade­s de artesãos. Um desses grupos, o Casulo Feliz, é especialis­ta em seda em estado bruto e forneceu matéria-prima para vestidos e blusas. A estilista também associou sua identidade essencialm­ente mineira à produção em massa, materializ­ada pelos looks em jeans reciclados.

Jeans que também fez a moda da Ellus 2nd Floor, que nesta temporada licenciou a estética da “Mulher Maravilha”, da DC. Estrelas e insígnias militares foram coladas a acessórios e moletons da coleção, que também trouxe escritos com o nome da heroína impressos nas mangas.

O viés pop funciona nas araras, mas apareceu com muitas propostas que se repetem ao longo da coleção e trazem sensação de constante déjà vu. ESPORTE FINO Em outro extremo, a Memo, de Patrícia Birman, aplicou tecidos tecnológic­os e de performanc­e que são a base das roupas de academia produzidas pela marca. Assim como na temporada passada, ela convidou outra grife para coassinar a coleção. A etiqueta da vez é a Lilly Sarti, que pincelou babados, bocas largas e fendas à moda esportiva. GIULIANA ROMANNO muito bom ISABELA CAPETO MEMO bom APARTAMENT­O 03 ótimo ELLUS 2ND FLOOR bom regular

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