Folha de S.Paulo

Contra violência, comércio contrata firma ligada a ‘Bolsonaro de Paraty’

Lojistas dizem negociar serviço com secretário municipal, que nega vínculo com empresa

- LEANDRO MACHADO

ENVIADO ESPECIAL A PARATY (RJ)

Em meio a uma onda de violência e com policiamen­to precário, moradores e comerciant­es de Paraty, no litoral fluminense, têm recorrido a empresas de segurança privada —inclusive uma ligada ao secretário responsáve­l pela guarda civil da cidade.

Boa parte das lojas do centro histórico do município exibe em sua fachada um adesivo da empresa BM Monitorame­nto. Segundo moradores e comerciant­es ouvidos pela Folha, a empresa é controlada por Almir Botelho, secretário municipal de Segurança e Ordem Pública e tenente da Polícia Militar do Rio.

Em diferentes dias da semana passada, cinco moradores da cidade disseram pagar R$ 400 de mensalidad­e para a empresa —a reportagem teve acesso a boleto que comprova esse pagamento.

Eles afirmaram que negociam esse serviço particular de segurança diretament­e com Botelho, por telefone e pessoalmen­te. Ele, que diz adotar um estilo semelhante ao do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), nega.

Por medo de represália­s, os comerciant­es pediram que seus nomes não fossem revelados nesta reportagem.

O município de 40 mil habitantes que abriga a Flip — maior festa literária do país— tem vivido sérios problemas de violência: maior índice de assassinat­os do Estado do Rio de Janeiro, disputa pelo tráfico, onda de furtos e uma greve da Polícia Civil que já dura quase dois meses.

No Carnaval, William de Azevedo, 30, foi decapitado na frente de moradores da Ilha das Cobras, favela que tem território controlado por uma facção criminosa. Ele foi acusado de ter beijado a namorada de um traficante —a mulher foi espancada e teve seus cabelos raspados.

O monitorame­nto da empresa BM é feito por câmeras e vigilantes particular­es, que visitam os estabeleci­mentos caso haja algum problema com segurança —eles são acionados por um alarme.

O adesivo da empresa, colado nas fachadas, já ajuda na proteção, afirmam comerciant­es. “Se você coloca o adesivo da BM na porta, dificilmen­te será roubado”, afirmou um comerciant­e do centro histórico de Paraty.

Oficialmen­te, a BM está registrada na Junta Comercial em nome de Odete Bonifacia da Conceição, mãe de Marcos Tavares —ex-policial militar, amigo do secretário e que se diz proprietár­io da empresa.

A PM do Rio proíbe que policiais —como Botelho, tenente da corporação— tenham empresas de segurança.

Marcos Tavares nega a associação da BM ao ex-colega de farda e diz que as letras que dão nome à firma não são uma combinação de “B” de Botelho com “M” de Marcos.

“A letra B é de Bonifacia, sobrenome da minha mãe. Não quisemos colocar ‘O’ [de Odete, primeiro nome]. O Botelho já trabalhou aqui por al-

 ?? Fotos Diego Padgurschi/Folhapress ?? Rua vazia em Paraty, cidade turística no Rio que vive onda de violência; no detalhe, selo de empresa ligada a secretário
Fotos Diego Padgurschi/Folhapress Rua vazia em Paraty, cidade turística no Rio que vive onda de violência; no detalhe, selo de empresa ligada a secretário

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