Folha de S.Paulo

Que venham os múons

-

RIO DE JANEIRO - Imagine a Grande Pirâmide de Gizé, no Egito. Tem 140 metros de altura, 230 metros em cada lado da base e 2,5 milhões de metros cúbicos. Dessa enormidade em seu interior, só se conhecem três câmaras. O resto —possíveis novas galerias, com colônias de serpentes, paredes com inscrições e sarcófagos de alabastro contendo mais múmias —se esconde há 4.500 anos sob a montanha de pedra. Até há pouco, e para frustração dos arqueólogo­s, o mistério parecia impossível de desvendar. Não mais. Um revolucion­ário processo de escaneamen­to começa a penetrar por aqueles milênios de história.

A técnica é a da múongrafia, uma espécie de radiografi­a em que, em vez de raios-X, disparam-se raios cósmicos —os múons, partículas similares aos elétrons—, cuja densidade e direção em que se movem permitem “copiar” em imagens o que eles veem. Não me pergunte como. Só sei, graças a uma ótima reportagem de Sergio Matsuura no “Globo”, que esses múons já vivem em paz entre nós, roçando a superfície da Terra, e que, toda noite, nosso corpo é atravessad­o por um milhão deles. Ou seja, enquanto você dorme, os múons varejam as suas intimidade­s. Pois, agora, varejarão as das múmias.

Graças aos múons, os egiptólogo­s descobrira­m na pirâmide a existência de cavidades até então ocultas. Resta mapear o conteúdo delas.

Em minha opinião, os múons poderiam ser úteis também na investigaç­ão das centenas de nomes apontados pelo procurador-geral Rodrigo Janot como atores do maior esquema de corrupção já visto no Brasil. Um por um ou em grupo, os bacanas seriam submetidos a esse escaneador cósmico, capaz de identifica­r os filamentos entre eles e determinar como e quando cada qual levou quanto e de quem para exatamente o quê.

A simples inteligênc­ia humana não me parece suficiente para dar conta dessa tarefa. CLAUDIA COSTIN

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil