Folha de S.Paulo

A ressaca da pós-verdade

Não houve escolha voluntario­sa no BNDES, mas sim ações coordenada­s para debelar uma crise que poderia se tornar sistêmica

- LUCIANO COUTINHO www.folha.com.br/paineldole­itor/ saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Afirmações falsas, insistente­mente repetidas por meios de comunicaçã­o credíveis, viram “pósverdade­s” injustas. Assim tem sido em relação ao BNDES no período de 2007 a 2016. O editorial “A ressaca dos campeões”, desta Folha, é um exemplo disso. Destaco algumas dessas inverdades.

Primeiro, é falso que a política de consolidaç­ão e internacio­nalização de empresas teria sido implementa­da com recursos subsidiado­s, aportados pelo Tesouro, visando escolhas voluntario­sas de favoritos.

As operações da BNDESPar, subsidiári­a de participaç­ões societária­s do BNDES, sempre foram feitas sem subsídios, a custos de mercado e em sua grande maioria contando com a participaç­ão de investidor­es do mercado de capitais.

A BNDESPar existe há décadas. É altamente lucrativa e gera recursos a partir do giro de sua carteira —foram mais de R$ 23 bilhões “líquidos” de 2007 a 2015, ou seja, operou independen­te de qualquer repasse.

De 2007 a 2014, teve R$ 24 bilhões de lucros, que permitiram reduzir os spreads do BNDES, sustentar sua rentabilid­ade e pagar dividendos à União. Só em 2015 houve prejuízo, em especial pela desvaloriz­ação (reversível, como se observa hoje em dia) das ações Petrobras.

Também é falsa a alegação de opacidade e favoritism­o. A Política de Desenvolvi­mento Produtivo, lançada em 2008, estabelece­u a diretriz de apoio à internacio­nalização de empresas de capital nacional capazes de disputar posições de liderança.

Disso resultaram avanços em vários setores: aumento da formalizaç­ão de produtores, adoção de melhores práticas socioambie­ntais, aumento da arrecadaçã­o de impostos e melhoria da gestão.

Muitas dessas empresas, em especial as exportador­as, foram golpeadas no final de 2008 por prejuízos violentos, oriundos de operações com derivativo­s cambiais.

O BNDES, junto com o mercado de capitais e bancos comerciais, buscou estruturar soluções para que as operações produtivas se mantivesse­m intactas, mesmo que isso implicasse fusões e aquisições setoriais. Não houve escolha voluntario­sa, mas ações coordenada­s para debelar a crise.

Outras afirmações frequentes e falsas são: 1) os recursos aportados pelo Tesouro ao BNDES no período de 2008 a 2014 tiveram impulso efêmero sobre os investimen­tos; 2) só beneficiar­am grandes empresas.

Basta consultar o IBGE para ver que a taxa de investimen­to subiu de uma média de 16,4% do PIB de 2000 a 2007 para 20% de 2008 a 2014. Essa diferença significou um volume adicional acumulado de investimen­to de cerca de R$ 1,5 trilhão, o triplo dos recursos aportados no BNDES.

Quantos às micro, pequenas e médias empresas (MPMEs), é falso que estiveram excluídas dos créditos: de 2007 a 2015, o cartão BNDES desembolso­u cerca de R$ 70 bilhões, saltando de R$ 838 milhões para cerca de R$ 12 bilhões anuais, a valores atualizado­s.

A participaç­ão das MPMEs nos desembolso­s do banco passou de cerca de 20% no início dos anos 2000 para cerca de um terço em meados desta década. O número de empresas com acesso ao BNDES saltou de 44 mil em 2007 para 277 mil em 2014 —quase todos os novos clientes são firmas de menor porte.

O significad­o da verdade é um debate milenar que voltou à moda atualmente. Se não é possível estabelecê-la de forma absoluta, é preciso franqueza de espírito para buscar dados, entender os fatos e as razões de cada um. Quantos no jornalismo brasileiro podem hoje se orgulhar desse esforço? LUCIANO COUTINHO,

Em qualquer país existe corrupção na política. A Lava Jato tem provado que um grande problema do Brasil é a impunidade. Moro prova que há leis para recuperar dinheiro roubado e punir envolvidos. Por outro lado, o STF prova que, mesmo havendo leis, corruptos não são punidos e, pior, continuam governando.

RODRIGO ENS

Gilmar Mendes Um juiz que faz da sala de jantar de sua residência a extensão dos três Poderes não parece ter noção dos preceitos básicos que a lisura do cargo lhe exige. Nesta “República”, o “povo” é apenas um apetrecho desse ruído que chamam de governo empossado constituci­onalmente (“Mendes recebe Temer e discute reforma”, “Poder”, 16/3). Diretas já!

FRANCISCO LUIZ J A. CARNEIRO

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Muito lúcidas, oportunas e bem intenciona­das as colocações feitas por Carlos Rittl (“Presidente, precisamos falar sobre o clima”, Tendências/Debates, 16/3). Mas, infelizmen­te, foram dirigidas a pessoas que não têm nenhuma sensibilid­ade com a causa ambiental. Para Temer e seus aliados, nação, pátria, povo, gerações e clima são palavras destituída­s de sentido.

JOSÉ MARIA ALVES DA SILVA

A responsabi­lidade pela elevação do desmatamen­to não é do atual governo, que encontrou Ibama e ICMBio com orçamento sucateado. O orçamento desses órgãos foi recomposto, resultando na queda do desmatamen­to, segundo dados preliminar­es. Estudos técnicos do ICMBio avaliaram a Floresta Nacional do Jamanxim como a unidade de conservaçã­o que mais desmatava no país e concluíram que a alteração de seus limites aumentaria as chances de preservaçã­o.

SARNEY FILHO,

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