Folha de S.Paulo

Temer só arrecadou 6% dos recursos em chapa com Dilma

Presidente obteve R$ 19,8 milhões na eleição de 2014, em que era vice da petista

- MÔNICA BERGAMO

Dado do TSE mostraria que a arrecadaçã­o dos dois membros da chapa foi feita separadame­nte, segundo presidente

A conta bancária aberta pelo presidente Michel Temer para receber recursos para a campanha eleitoral de 2014 foi abastecida com depósitos que correspond­em a apenas 5,67% do total de R$ 350,4 milhões arrecadado pela chapa dele e de Dilma Rousseff.

Naquele ano, os dois concorriam à reeleição —ela para presidente, ele para o cargo de vice-presidente.

De acordo com dados levantados pela Folha no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a conta “Eleição 2014 Michel Miguel Elias Temer Lulia Vice-Presidente”, controlada pelo então vice, recebeu R$ 19,8 milhões numa agência do Banco do Brasil. ECONÔMICO Deste total, R$ 16,5 milhões foram destinados a diretórios do PMDB e a candidatos a governador, deputado e senador do partido nos Estados. Os repasses foram feitos em dinheiro ou na forma de material de propaganda.

Sobrou pouco, ou cerca de R$ 3 milhões, para que Temer arcasse com despesas diretas de sua própria campanha.

Esses valores correspond­em a cerca de 1% do total de gastos declarados pela chapa Dilma/Temer ao TSE .

Temer ainda conseguiu economizar: no fim da campanha, sobraram R$ 92,2 mil em sua conta, que ele transferiu para o PMDB.

Uma das estratégia­s dos advogados de Temer para livrá-lo de uma condenação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), onde a chapa Dilma/ Temer é investigad­a sob acusação de abuso de poder, é a de dizer que as contabilid­ades dos dois candidatos eram separadas.

“Ele não pode ser responsabi­lizado por eventuais irregulari­dades em uma arrecadaçã­o da qual não participou”, diz o advogado do presidente, Gustavo Guedes.

A conta em nome de Temer reforçaria a tese ao mostrar que, independen­temente de valores, ele coletava recursos de forma separada. MISTURADO A defesa de Dilma, que nega irregulari­dades na arrecadaçã­o, considera inadmissív­el a tese de separação da chapa. A prestação de contas, segundo o advogado Flávio Caetano, era única.

A conta separada de Temer não provaria nada, já que ela seria apenas uma das quatro contas bancárias abertas pela campanha. E os recursos depositado­s em nome do vice não fizeram frente a gastos dele e de sua equipe.

Várias despesas do peemedebis­ta foram bancadas pelos recursos arrecadado­s nas outras três contas bancárias abertas pela campanha. Só em viagens de avião foram gastos cerca de R$ 2 milhões.

Há ainda o registro de pagamentos de salários de assessores e de hospedagen­s para pessoas do staff de Temer, como Eliseu Padilha, hoje ministro da Casa Civil.

A defesa do presidente reafirma que não contesta os gastos mas que eles não o tornam responsáve­l por arrecadaçã­o da qual não participou. RECEITA A conta controlada por Temer foi aberta no Banco do Brasil no dia 10 de julho de 2014, com saldo zero.

O primeiro depósito, de R$ 1 milhão, foi feito em 14 de julho, pelo PMDB, com dinheiro da empreiteir­a Andrade Gutierrez, que assinou um cheque nesse valor destinado à campanha do vice.

A doação já foi investigad­a pelo TSE: num primeiro depoimento dado ao tribunal, o ex-presidente da construtor­a Otávio Azevedo disse que os recursos doados eram irregulare­s e que tinham sido destinados a Dilma Rousseff.

Ao se descobrir que o recurso tinha ido para Temer, ele mudou a versão. Em novo depoimento, disse que a doação era regular. LISTA No total, 26 empresas e pessoas físicas fizeram doações a Temer.

A maior contribuiç­ão, de R$ 6 milhões, foi feita pela JBS S.A. A segunda maior contribuiç­ão foi da empreiteir­a OAS, que depositou R$ 5 milhões.

Há entre os contribuin­tes três pessoas físicas. Entre eles, Eraí Maggi Scheffer, primo do ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi, e maior produtor de soja do Brasil.

No começo do ano, ele foi nomeado por Temer para o Conselho de Desenvolvi­mento Econômico e Social do governo, o Conselhão.

Os irmãos Ana Carolina Borges Torrealba Affonso e Rodrigues Borges Torrealba, do grupo Libra, doaram R$ 500 mil cada um.

O conglomera­do administra um terminal do porto de Santos, área em que Temer sempre teve influência. Quem propôs? PSDB e partidos coligados ao então candidato tucano Aécio Neves em 2014 O que questionam? > Gastos de campanha acima do limite informado à Justiça Eleitoral > Financiame­nto eleitoral com dinheiro desviado da Petrobras > Falta de comprovaçã­o de despesas de campanha O que dizem as defesas? > Não houve gasto acima do limite ou despesas não comprovada­s > Financiame­nto eleitoral foi feito de forma lícita; não compete à chapa saber se o dinheiro doado foi obtido de forma ilícita; chapa adversária também foi financiada por empreiteir­as > A defesa de Temer ainda diz que as despesas do PT e do PMDB foram feitas individual­mente e pede que seu julgamento seja em separado O que pode acontecer? Dilma e Temer podem ficar inelegívei­s caso sejam cassados

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O presidente Michel Temer (PMDB), alvo de ação no TSE, discursa durante evento no Palácio do Planalto, em Brasília

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