Folha de S.Paulo

Sendo o PT titular do governo, natural ser prioritári­o.

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Para o procurador da República Celso Antônio Três, 54, é demagogia invocar o interesse público para divulgar as delações da Lava Jato.

Segundo ele, a divulgação “derrete o mundo político, o Estado, dilapida a economia, os investimen­tos e os empregos”. “A lei da delação impõe sigilo até a apresentaç­ão da denúncia. Preserva a apuração e a honra do delatado até então indefeso”, afirma, em entrevista por e-mail.

Três atuou no Banestado, a megalavage­m de dinheiro desmontada nos anos 1990 no Paraná, que inspirou procurador­es da Lava Jato.

Ele faz leitura crítica da carta do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, distribuíd­a na terça (14) aos membros do MPF, balanço do acordo de delação da Odebrecht.

Três foi filiado ao PT nos anos 80. Ao assumir função pública, afastou-se da sigla, da qual foi alvo de representa­ções por investigaç­ões que realizou. É autor de documento, distribuíd­o no Senado, com críticas às “10 Medidas Contra a Corrupção” defendidas por Sergio Moro e pela força-tarefa.

Em Novo Hamburgo (RS), diz que a operação “é a maior investigaç­ão da história”. “Depois dela, tudo será pequeno.” Folha - Qual é a sua leitura da carta do procurador-geral da República? Essas provas foram obtidas?

Apenas o futuro dirá se elas foram ou não obtidas. Até agora, no STF, vencidos dois anos, há apenas seis réus. O ex-procurador-geral Roberto Gurgel disse que expandir a investigaç­ão a 77 delatores compromete sua finalizaçã­o. Alguém acredita que a Odebrecht tenha 77 corruptore­s? São, na verdade, cumpridore­s das ordens de Marcelo [Odebrecht]. Na carta, Janot vê a “democracia sob ataque” e aponta dois desafios aos procurador­es: “manter a imparciali­dade diante dos embates políticopa­rtidários” e “velar pela coesão interna”.

O estopim do impeachmen­t foi a divulgação da conversa de Dilma e Lula. Janot avalizou-a. Temer, antes da Presidênci­a —agora está blindado—, já constava em listas e menções de propina. Janot nunca investigou. Onde há imparciali­dade? Há coesão no MPF?

O alvo da carta é o público externo, fazendo transparec­er à sociedade que ele encarna o comando do MPF. Há coesão na medida que os divergente­s são silencioso­s. Janot agiu para evitar vazamentos de documentos e delações? Criticou-se a Lava Jato pela demora em atingir lideranças de outros partidos, além do PT. O que poderá esvaziar mais a Lava Jato: as manobras do Legislativ­o ou a morosidade do Judiciário?

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Grupo Sinos/Divulgacao O procurador Celso Três, que atuou no caso Banestado, tido como embrião da Lava Jato

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