Sindicalistas anunciam greve geral na Argentina em abril
Dia de paralisação é reflexo da dificuldade de Macri de superar crise econômica e da impopularidade do governo
Quando assumiu a Presidência da Argentina, em 2015, Mauricio Macri prometeu que a economia daria sinais de melhora no segundo semestre de 2016. O período chegou com inflação ainda maior que a da data da posse (de 30% para 40%) e sem perspectivas de retomada do crescimento (2016 teve queda de 1,8% do PIB), e as inquietações começaram.
O governo pôs, então, uma nova data para a decolagem do país, o início de 2017, com a previsão de que as coisas só iriam melhorar no fim do ano. Segundo Macri, o PIB voltaria a crescer em 3% e a inflação cairia até uma faixa entre os 12% e os 17%.
Só que nada disso aconteceu até agora, e a paciência com o discurso do governo, para alguns setores, já está acabando. Depois de irem às ruas no último dia 7, os principais sindicatos do país, comandados pela CGT (Confederação Geral do Trabalho) anunciam greve geral e nacional para o dia 6 de abril.
“É uma medida de força pelo mal-estar generalizado que há em vários setores da população”, disse nesta quinta (16) o secretário-geral da CGT, Juan Carlos Schmid.
Os trabalhadores reivindicam que seus salários sejam reajustados de acordo com a inflação real, mas o teto que o governo sugere está bem abaixo dos 40%. Além disso, querem limites à liberação das barreiras para as importações, pois isso causou demissões na indústria local. Por fim, pedem a redução da inflação e que tarifas básicas (água, eletricidade, gás e transporte) deixem de subir.
Esses serviços recebiam, durante o kirchnerismo, subsídios que faziam com que os argentinos pagassem taxas irrisórias. Desde que Macri assumiu, passou a retirar esse benefício, causando aumentos de até 700%.
A aproximação do inverno, com a perspectiva de mais gastos com aquecimento, tornou esse item ainda mais urgente. O governo diz que os aumentos continuarão, mas que serão “graduais”.
Ainda que a política de ajustes seja considerada necessária pela maioria dos analistas, o peso no bolso do cidadão de classe média é pesado. “Chego com o dinheiro justo ao fim do mês, não aguento um centavo a mais de aumento de nada”, disse à Folha a professora Jenny Coria, num protesto em Buenos Aires.
Também preocupam os argentinos o aumento do desemprego, que foi de 5,9% (2015) a 8,5%, e o da pobreza, que passou de 28,4% a 32,2%. IMAGEM DO GOVERNO A crise econômica e a divulgação de casos de corrupção fizeram a imagem do governo se desgastar. Segundo o instituto Isonomia, o número dos que acreditam que as coisas estarão melhores em um ano foi de 55% a 49%, enquanto o daqueles que pensam que a situação vai piorar aumentou de 28% para 31%.
Para rebater o mau momento, o governo vem lançando planos para recuperar a confiança dos argentinos, num ano em que haverá eleição legislativa —em 22 de outubro, renovando boa parte do Congresso.
Na quarta (15), Macri anunciou um acordo automotivo que visa à produção de 1 milhão de carros em 2023 e a criação de 30 mil postos de trabalho. Nas próximas semanas, acordos similares serão anunciados nas áreas de produção de motos e construção.