Ausência de Infraero atrai estrangeiros
DE SÃO PAULO
Sem a presença das construtoras brasileiras envolvidas na Lava Jato e da Infraero, a nova rodada de concessões de aeroportos atraiu três empresas europeias, que arremataram os quatro aeroportos leiloados pelo governo federal nesta quinta (16).
Os lances oferecidos pela alemã Fraport (que levou Fortaleza e Porto Alegre), pela francesa Vinci (que ficou com Salvador) e pela suíça Zurich (Florianópolis) alcançaram R$ 1,46 bilhão, superando em mais de 90% as ofertas mínimas determinadas pelo governo.
A expectativa é que serão feitos investimentos superiores a R$ 6,6 bilhões.
Com a nova concessão, a gestão privada atuará no transporte de 59% dos viajantes do país em dez aeroportos privatizados, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil.
O evento marcou a abertura da primeira rodada de concessões da gestão Temer e servirá de teste para o modelo de privatizações deste governo, que esticou prazos para análise dos projetos, mudou a forma de pagamento das outorgas e criou uma espécie de “seguro cambial” contra eventuais altas do dólar. NOVO PERFIL Uma das mudanças consideradas mais importantes para atrair investidores foi a retirada da Infraero como sócia obrigatória. Nos leilões passados, a estatal tinha 49%.
As disputas anteriores contaram com a presença de construtoras brasileiras como Engevix, Carioca e Odebrecht, investigadas pela Lava Jato, além da CCR, que tem entre seus sócios Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez, também alvo da operação.
Nos outros leilões, boa parte dos vencedores era composta de consórcios que tinham administradores de aeroportos de menor porte.
No leilão desta terça, todos os vencedores são gigantes mundiais do setor —juntos, os três grupos administram 51 aeroportos no mundo, por onde passam 421,5 milhões de passageiros por ano.
Embora tenha surpreendido analistas pela dimensão dos ágios, o resultado não era dado como certo.
DE SÃO PAULO
A decisão do governo de deixar de fora a Infraero nesta rodada de concessão de aeroportos foi um atrativo para a chegada dos três grupos europeus que arremataram todos os projetos nesta quinta-feira (16).
A suíça Zurich, que levou Florianópolis, é uma das que acumulam aborrecimentos após se associar à estatal na concessão do aeroporto de Belo Horizonte, há pouco mais de três anos.
Confins foi concedido em 2013 com participação de 49% da Infraero. Os privados Grupo CCR e Zurich têm 51%.
A Infraero tem hoje um plano de expandir a operação de Pampulha, também em Belo Horizonte, numa iniciativa que elevaria a concorrência da própria concessionária da qual faz parte, desagradando aos sócios.
“A decisão de investir leva em conta desde o perfil do aeroporto, à experiência que a empresa já acumulou no país, passando pelo fato de não precisar ter a Infraero como acionista”, afirma Eduardo Carvalhaes, sócio do escritório BMA —Barbosa, Müssnich, Aragão, que assessorou a Zurich.
A alemã Fraport, que já é sócia da Infraero numa subsidiária da estatal, levou Fortaleza e Porto Alegre.
Para Fernando Villela, sócio do Siqueira Castro Advogados, que assessorou a Fraport, o governo “acertou” ao remodelar o leilão.
“Se você quer passar para a iniciativa privada o serviço público, é porque quer o dinamismo privado. Mas, quando põe uma estatal, você engessa a empresa.”
Bruno Werneck, sócio do escritório Mattos Filho, que assessorou a francesa Vinci (vencedora de Salvador), os ágios acima do esperado mostram que “há uma visão positiva das três estrangeiras sobre o futuro do país”.
A oferta mínima exigida por Salvador era de R$ 310 milhões, muito inferior aos R$ 660 milhões oferecidos pela Vinci, que não teve concorrente na Bahia. NOVOS LEILÕES O ágio surpreendeu tanto que o governo já começou a planejar a próxima rodada de leilão de aeroportos.
Quem participa das discussões diz que a ideia é fazer o próximo leilão no início de 2018 com quatro a oito unidades. Estão sob análise 17, principalmente nas capitais. Foz do Iguaçu (PR) e Juazeiro do Norte (CE) também seriam alvo.
Congonhas (SP), Santos Dumont (RJ), Curitiba (PR) e Manaus (AM) estão fora. Com boa rentabilidade, ficarão como pilares da reestruturação da Infraero. JULIO WIZIACK,
Nos últimos dias, pelo menos quatro potenciais investidores, brasileiros e estrangeiros, desistiram de concorrer.
Nas redes sociais, o presidente Michel Temer comemorou o resultado e afirmou que, com a venda para grupos estrangeiros, o país reconquistou a “credibilidade no cenário internacional”. VALORES O montante de R$ 1,46 bilhão será pago em julho, na assinatura dos contratos, que vão valer de 25 a 30 anos.
O total obtido (incluindo as ofertas vencedoras do leilão mais as contribuições fixas a serem pagas no período da concessão) ficou em R$ 3,7 bilhões —o valor mínimo era de R$ 3 bilhões.
Os concessionários também pagarão anualmente a contribuição variável de 5% da receita de cada aeroporto.