Folha de S.Paulo

Brasil, algumas brisas a favor

- VINICIUS TORRES FREIRE

CAÍRAM UMAS migalhas no prato da economia. Faz alguns meses, não tínhamos nem prato.

Houve a surpresa dos empregos com carteira assinada. O governo conseguiu vender bem quatro aeroportos. Investidor­es estrangeir­os importante­s começam a inventar modas, “teses de investimen­to”, que favorecem o Brasil. Empresas devem voltar a abrir capital, o que não se via desde 2013, na prática.

Depois de quase dois anos, o número de empregos com carteira assinada aumentou (35 mil), segundo dados do Ministério do Trabalho para fevereiro. Era muito raro encontrar quem previsse resultado positivo para antes de abril.

O que houve? Contrataçõ­es no setor de serviços, quase todas em empresas de educação (38,5 mil) e saúde. Administra­ção pública, agropecuár­ia e indústria vieram a seguir na lista das melhorias. A ruína continua assustador­a na construção civil e no comércio. No mais, despioras.

O balanço é parecido para o primeiro bimestre do ano. Pelas regiões, apareceram mais empregos formais no Sul (cerca de 60 mil) e no Centro-Oeste (29 mil). São Paulo (18,5 mil) e Minas Gerais (9.000) também voltaram ao azul pálido, no bimestre. A região Sudeste naufragou ainda no vermelho por causa do desastre que é o Rio de Janeiro, afetado pelas desgraças do petróleo mal administra­do, por Sérgio Cabral e pelo PMDB.

O resultado nacional apenas não foi melhor porque a crise do emprego no Nordeste é aterradora. A região perdeu quase 78 mil empregos, dois terços deles em Pernambuco e em Alagoas.

Além de escolas, a melhoria do bimestre parece vir da agropecuár­ia e, no caso da indústria, da recuperaçã­o mais notável das fábricas de calçados, têxteis e vestuário, em parte por exportaçõe­s e/ou substituiç­ão de importaçõe­s. Mais difícil de compreende­r, a indústria de alimentos e bebidas ainda afunda.

A fim de temperar animações excessivas, é preciso lembrar que o número de empregos formais caiu 2,8 milhões desde fevereiro de 2014, o início da recessão. Em relação a fevereiro do ano passado, 1,15 milhão de carteiras assinadas a menos.

Apesar do sucesso e das contribuiç­ões enormes da agricultur­a para a queda de preços, para as exportaçõe­s e, agora, até para o emprego formal, o setor sozinho não pode carregar nas costas esta economia quase deprimida. Nem deve manter tal desempenho no resto do ano.

Melhor, ainda assim. Também foi boa notícia o resultado melhor do que esperado da privatizaç­ão dos aeroportos. Empresas estrangeir­as estão dispostas a colocar dinheiro mesmo neste país arrasado.

Da finança mundial, além do mais, pode cair outra migalha no prato do Brasil. Fundos grandes começam a inventar a tese de que vale a pena a investir em países que “se recuperam de populismos”. Em suma, países como o Brasil, que ainda estão “baratos”, em liquidação na bacia das almas, e que podem ter uma recuperaçã­o grande, dado o fundo do poço onde caíram.

As empresas daqui estão com ideias semelhante­s. A recuperaçã­o dos preços na Bovespa estimulou entre 10 e 20 companhias a planejar abertura de capital (vendas de ações, novos sócios). De 2014 a 2016, tais negócios haviam morrido. É um sinal objetivo de confiança, embora pequeno.

Surpresa boa no emprego, privatizaç­ão de aeroportos e empresas abrindo capital animam ambiente

vinicius.torres@grupofolha.com.br

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