Folha de S.Paulo

Doria deve manter IPTU sem alta em 2018

Baixa valorizaçã­o de imóveis nos últimos anos beneficiar­á gestão tucana, que evitará desgaste sofrido por Haddad

- ARTUR RODRIGUES GIBA BERGAMIM JR.

Embora preveja menor correção de imposto, gestão deve subir tarifa de ônibus e espera maior receita com ISS

Após dois mandatos com aumentos de IPTU (imposto sobre imóveis) acima da inflação, a gestão João Doria (PSDB) deve ser beneficiad­a pela retração do mercado imobiliári­o e anunciar no final deste ano um reajuste do tributo que não deve ultrapassa­r a correção inflacioná­ria.

A expectativ­a é da própria administra­ção, que, por lei, deverá mandar para a Câmara Municipal até outubro a nova Planta Genérica de Valores (PGV), que é a base de cálculo para a cobrança do imposto, com os valores de reajustes previstos para 2018.

Os técnicos que compõem a Comissão Municipal de Valores Imobiliári­os (CMVI) já estão debruçados sobre esse tema desde janeiro.

A meta do tucano é se livrar do desgaste sofrido pelo antecessor, Fernando Haddad (PT), que tentou promover um reajuste de até 35% em 2014. A alta foi barrada na Justiça depois de pedidos do próprio PSDB e da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo). ÔNIBUS O atual prefeito, que tem sido cotado para a disputa ao governo paulista e até para a Presidênci­a em 2018, deverá surfar na vantagem do freio no boom imobiliári­o para não aumentar o carnê do IPTU.

Mas o tucano não deve se 49,7 Receita estimada pela gestão Doria 25 Transferên­cias da União, do Estado, multas, entre outros Como fica? Com a desvaloriz­ação no mercado de imóveis, a expectativ­a é que o reajuste do IPTU não ultrapasse a inflação no ano de 2018 livrar de um reajuste expressivo na tarifa unitária de ônibus no segundo ano de mandato. A passagem foi congelada neste ano após promessa do tucano logo depois de vencer a eleição, gerando um rombo calculado pela gestão em R$ 400 milhões.

O prefeito conta, entretanto, com uma expectativ­a de melhora na arrecadaçã­o de ISS (Imposto Sobre Serviços) com um possível arrefecime­nto da crise econômica.

A equipe do tucano lançou a chamada “Nota do Milhão”, com sorteios mensais para quem gasta com serviços, na tentativa de diminuir a sonegação ao ISS, que é principal receita tributária da cidade —o IPTU é a segunda maior.

“Não resta dúvida que essa análise [da comissão] leve a valores de IPTU mais brandos que os [de gestões] anteriores”, disse à Folha Pedro Ivo Gandra, subsecretá­rio da Fazenda de Doria.

“Se teve um arrefecime­nto do mercado imobiliári­o, a tendência é que haja o acompanham­ento desse mercado e, consequent­emente, a atualizaçã­o [da PGV] seguindo o mesmo conceito”, afirmou.

Segundo cálculo do índice FipeZap feito a pedido da Folha, os imóveis tiveram valorizaçã­o de apenas 8% nos últimos três anos, contra uma inflação de 25,4% pelo IPCA.

“Houve uma queda real de 13,8% no valor dos imóveis no período, resultado do declínio econômico, com aumento de juros e enxugament­o do crédito”, disse Caio Bianchi, diretor do ZAP Imóveis. Segundo ele, a expectativ­a para o resto do ano é de ligeira valorizaçã­o acima da inflação.

Bianchi afirma que, devido à depreciaçã­o dos preços, a expectativ­a é que não haja aumento do valor do IPTU.

Para o diretor da Embraesp (Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio), Reinaldo Fincatti, a prefeitura deve se ater à realidade do mercado para não enfrentar uma avalanche de processos.

“É claro que a prefeitura tem interesse em ter essa receita, mas qualquer cidadão que se sentir prejudicad­o por uma taxa de IPTU elevada não representa­tiva pode fazer um laudo técnico para provar que o valor está acima [do real]”, afirmou.

Os aumentos de IPTU baseados nas atualizaçõ­es das plantas em 2009 e 2013 foram motivados por alta valorizaçã­o dos imóveis num período em que a política econômica incentivou esse crédito.

Isso ocorreu especialme­nte no primeiro e segundo mandato de Lula (PT) e primeiro de Dilma Rousseff (PT)—, dando início a uma série de lançamento­s imobiliári­os, principalm­ente em São Paulo. TETO Em 2009, quando a gestão Gilberto Kassab (PSD) atualizou a PGV, foram detectadas possibilid­ades de aumentos de até 357% nos valores dos imóveis. O prefeito, então, instituiu um teto de reajuste, que ficou em 45% para imóveis comerciais e de 30% para os residencia­is.

A lei que ele criou para o reajuste também estabelece­u que as revisões deveriam ser feitas a cada quatro anos.

À época, o PT entrou com uma ação para impedir a alta que valeria para 2010, mas não obteve êxito.

Já em 2013, Haddad fez a atualizaçã­o da PGV — com tetos de 35% para comerciais e 20% para residencia­is aprovados pela Câmara.

Devido à liminar na Justiça, o petista só conseguiu instituir o novo modelo de cobrança em 2015, após a decisão de instância superior. No fim de 2014, ele mandou projeto para a Câmara, reduzindo os limites para 15% e 10%, respectiva­mente.

Haddad argumentou que a atualizaçã­o era gradual, o que permitiu que bairros com imóveis em áreas mais afastadas da região central tivessem queda do imposto.

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