Folha de S.Paulo

Cratera de 5 m engole casal em moto; ‘meu pé não achou o chão’, diz vítima

Buraco foi aberto pela prefeitura na zona sul de SP para arrumar galeria de águas pluviais

- FABRÍCIO LOBEL

DE SÃO PAULO

Ao longo desta semana, o analista financeiro Vinícius Fonseca, 31, passou todos os dias ao lado de um buraco no asfalto da avenida Doutor Guilherme Dumont Vilares, na zona sul de São Paulo.

Com a mulher, a analista contábil Elenice Souza, 29, na garupa da moto de 250 cilindrada­s, ele contornava o obstáculo e seguia seu trajeto até o trabalho do casal, em Taboão da Serra (Grande SP).

Mas funcionári­os da Prefeitura de São Paulo chegaram com pás e picaretas, aumentaram a cavidade para arrumar uma galeria subterrâne­a de águas pluviais e perceberam um cano de esgoto também quebrado por ali.

“Com a obra, o buraco foi crescendo e crescendo a cada dia”, conta Vinícius, que, a caminho do trabalho, acabou caindo com a mulher e a moto na manhã desta quinta (16) dentro da cratera —que já tinha em torno de 5 m de profundida­de e 6 m x 4 m de extensão, ocupando uma das duas faixas da avenida.

“Eu via aquele buraco todo dia, mas nunca imaginei que fosse parar nele”, disse.

Segundo Vinícius, era perto de 8h quando ele desacelero­u a moto até parar no semáforo vermelho. Como de costume, levaria o pé direito ao chão para aguardar o recomeço da rota. Mas desta vez não deu certo. “Meu pé não achou o chão”, afirmou à Folha, sem saber direito o que ocorreu.

Ele acha que pode ter escorregad­o no asfalto cheio de areia. Já Elenice acha que o asfalto cedeu à beira da cratera.

De qualquer forma, a moto tombou levemente para a direita, na direção do buraco, isolado por cones e uma fita de plástico. A mulher, que nunca gostou de andar de mo- to, se assustou e puxou o marido. Vinícius sentiu Elenice e a moto tombando. “Tentei segurar por cinco segundos. Não aguentei e caímos.”

Na queda, Elenice foi prensada pelo marido e por tijolos que estavam no fundo do buraco. Lá, a água da galeria se misturava com o esgoto vazando de um cano da Sabesp.

A roupa de Vinícius logo ficou encharcada com o líquido. Ainda dentro do buraco, para “não se contaminar”, o rapaz tirou o casaco e a camisa. “Juntou muita gente no entorno do buraco para ver e ajudar. Arranjaram uma escada e jogaram para que a gente saísse de lá”, disse.

Com dores na costela e na coluna, Elenice não conseguiu subir a escada. Ao ver a dificuldad­e da moça, alguém no topo gritou: “Não mexe nela. Deixa ela imóvel”.

Um pedestre arranjou um pedaço de tapume e o mandou para dentro do buraco para que fosse improvisad­o como maca. Ali, Elenice aguardou o resgate dos bombeiros por 30 minutos.

“Aí eu assustei. Achei que pudesse acontecer algo grave com ela”, conta ele.

Para serem socorridos, o casal recorreu ao hospital do plano de saúde, onde foram submetidos a uma bateria de exames. Sem fraturas ou lesões graves, eles deixaram o hospital no início da noite.

Ainda com sapatos e calças sociais, que usaria no trabalho, e com um avental e colar cervical do hospital, Vinícius diz que agora terá que vender a moto. “Eu optei por ter a moto já que não temos dinheiro para comprar um carro. Elenice nunca gostou. Mas agora vou ter que vender a moto.”

No fim da tarde de quinta, funcionári­os da prefeitura cobriram o buraco. A camada de asfalto será recolocada nesta sexta, diz a gestão João Doria, que atribuiu a cratera ao dano na galeria de águas pluviais e tubulação da Sabesp.

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Volnei Valentim
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Marlene Bergamo/Folhapress Buraco foi tapado pela prefeitura no fim da tarde de quinta

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