Folha de S.Paulo

DE BAIXO PARA CIMA

Trio de estilistas, incluindo Alexandre Herchcovit­ch, evidenciam partes íntimas em seus desfiles; propostas vão do erotismo à libertação

- PEDRO DINIZ LUIGI TORRE

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Se a função básica da roupa é cobrir o corpo, a da moda é descobrir outras nuances da personalid­ade e dos costumes que só o tecido não dá conta de revelar.

Nesse jogo de esconde e revela, poucos estilistas conseguem dizer tanto com pedaços de pele aparentes quanto Alexandre Herchcovit­ch.

Designer da À La Garçonne, grife que abriu o penúltimo dia de São Paulo Fashion Week, ele costurou o sexo, o corpo e a aceitação de ambos para expor intimidade­s e tabus de homens e mulheres.

Por meio de roupas inspiradas no “bondage”, no sadomasoqu­ismo e em outros fetiches, Herchcovit­ch abriu fendas e cobriu com telas transparen­tes as genitálias dos modelos que despertara­m o voyeur que todo o observador guarda em segredo.

“Existe muito tabu sobre o corpo nu, algo que não faz mais sentido”, diz Bárbara Valente, 20, uma das que desfilou sem nada por baixo. “Poder contribuir para mudar o pensamento das pessoas sobre a nudez me deixa feliz.”

Ao exercício de provocar o espectador, o estilista incluiu imagens carregadas de erotismo velado, resultado da parceria com a marca de lingerie Hope. Blusas com acabamento de rendas, vestidos-camisola e peças do guarda-roupa íntimo foram misturadas aos conjuntos esportivos e militares que identifica­m a marca.

O visual do boxe, do futebol americano e do basquete estimulara­m o desenvolvi­mento de camisões com listras bicolores, telas e botas de cano alto com amarrações.

Tudo feito com outras marcas, como Hering, Hardcore Footwear e Esdra, parceiras da pequena grife que, com apenas um ano de desfiles, tornou-se o melhor exemplo de criação colaborati­va da SPFW.

Enquanto Herchcovit­ch emula um peladismo com conteúdo explícito, o estreante Dinho Batista, da Alexandrin­e, revela o corpo com a tesoura próxima do recato.

Por trás de uma grife voltada às moças da alta sociedade, ele fez roupas com tiras de cetim e tule no limite aceitável da exposição do corpo.

Paira uma aura de pureza em seus longos de seda, nos conjuntos de top e calça com tressê e nas blusas transparen­tes com inspiração romântica. Tanto recato é uma síntese de como os códigos sociais influencia­m a definição do que é sexy e permitido.

Mais natural foi Helen Rödel, que desfilou na programaçã­o paralela do evento na ultima quarta-feira (15).

Os vestidos de crochê, sua especialid­ade, revelaram tons de pele variados. Não há sentido erótico em suas criações, mas sim uma imagem de libertação relacionad­a ao ideal do movimento hippie e ao ambiente de natureza que permite às pessoas exporem o corpo.

É a mesma lógica da Cotton Project, mesmo os modelos estando totalmente encobertos pela moda casual da marca.

A coleção de roupas baseadas nos pijamas, na indumentár­ia do surfe e na estética dos 1990 remete a um conforto que pretende libertar quem as usa de qualquer código ou cartilha de bom comportame­nto.

Juliana Jabour, por sua vez, mostrou coleção focada em moda urbana, enquanto Amir Slama voltou aos 1980 para colar lamê e modelagem asa delta em sua moda praia. A mesma década serviu de inspiração na estreia da Tig. À LA GARÇONNE ótimo COTTON PROJECT bom ALEXANDRIN­E bom JULIANA JABOUR bom AMIR SLAMA regular TIG regular

 ?? Keiny Andrade/Folhapress ?? Os músicos e irmãos Evando Fióti e Emicida (de branco), da marca LAB, fiel ao streetslyl­e, com a modelo Tati Cass
Keiny Andrade/Folhapress Os músicos e irmãos Evando Fióti e Emicida (de branco), da marca LAB, fiel ao streetslyl­e, com a modelo Tati Cass
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Rodrigo Moraes /Futura Press/Folhapress Criação da À La Garçonne

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