DE BAIXO PARA CIMA
Trio de estilistas, incluindo Alexandre Herchcovitch, evidenciam partes íntimas em seus desfiles; propostas vão do erotismo à libertação
FOLHA FOLHA
Se a função básica da roupa é cobrir o corpo, a da moda é descobrir outras nuances da personalidade e dos costumes que só o tecido não dá conta de revelar.
Nesse jogo de esconde e revela, poucos estilistas conseguem dizer tanto com pedaços de pele aparentes quanto Alexandre Herchcovitch.
Designer da À La Garçonne, grife que abriu o penúltimo dia de São Paulo Fashion Week, ele costurou o sexo, o corpo e a aceitação de ambos para expor intimidades e tabus de homens e mulheres.
Por meio de roupas inspiradas no “bondage”, no sadomasoquismo e em outros fetiches, Herchcovitch abriu fendas e cobriu com telas transparentes as genitálias dos modelos que despertaram o voyeur que todo o observador guarda em segredo.
“Existe muito tabu sobre o corpo nu, algo que não faz mais sentido”, diz Bárbara Valente, 20, uma das que desfilou sem nada por baixo. “Poder contribuir para mudar o pensamento das pessoas sobre a nudez me deixa feliz.”
Ao exercício de provocar o espectador, o estilista incluiu imagens carregadas de erotismo velado, resultado da parceria com a marca de lingerie Hope. Blusas com acabamento de rendas, vestidos-camisola e peças do guarda-roupa íntimo foram misturadas aos conjuntos esportivos e militares que identificam a marca.
O visual do boxe, do futebol americano e do basquete estimularam o desenvolvimento de camisões com listras bicolores, telas e botas de cano alto com amarrações.
Tudo feito com outras marcas, como Hering, Hardcore Footwear e Esdra, parceiras da pequena grife que, com apenas um ano de desfiles, tornou-se o melhor exemplo de criação colaborativa da SPFW.
Enquanto Herchcovitch emula um peladismo com conteúdo explícito, o estreante Dinho Batista, da Alexandrine, revela o corpo com a tesoura próxima do recato.
Por trás de uma grife voltada às moças da alta sociedade, ele fez roupas com tiras de cetim e tule no limite aceitável da exposição do corpo.
Paira uma aura de pureza em seus longos de seda, nos conjuntos de top e calça com tressê e nas blusas transparentes com inspiração romântica. Tanto recato é uma síntese de como os códigos sociais influenciam a definição do que é sexy e permitido.
Mais natural foi Helen Rödel, que desfilou na programação paralela do evento na ultima quarta-feira (15).
Os vestidos de crochê, sua especialidade, revelaram tons de pele variados. Não há sentido erótico em suas criações, mas sim uma imagem de libertação relacionada ao ideal do movimento hippie e ao ambiente de natureza que permite às pessoas exporem o corpo.
É a mesma lógica da Cotton Project, mesmo os modelos estando totalmente encobertos pela moda casual da marca.
A coleção de roupas baseadas nos pijamas, na indumentária do surfe e na estética dos 1990 remete a um conforto que pretende libertar quem as usa de qualquer código ou cartilha de bom comportamento.
Juliana Jabour, por sua vez, mostrou coleção focada em moda urbana, enquanto Amir Slama voltou aos 1980 para colar lamê e modelagem asa delta em sua moda praia. A mesma década serviu de inspiração na estreia da Tig. À LA GARÇONNE ótimo COTTON PROJECT bom ALEXANDRINE bom JULIANA JABOUR bom AMIR SLAMA regular TIG regular